O Governo grego disse aceitar as condições dos credores divulgadas no último fim de semana, mas exige algumas alterações e clarificações. Foi quanto bastou para que se regressasse ao ponto de partida e, na Europa, todos adiassem qualquer negociação para depois do referendo.
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O dia começou com a palavra capitulação. Ou seja, com uma cedência, uma rendição. O primeiro-ministro grego rendeu-se às imposições das instituições europeias, nomeadamente ao aumento de impostos e ao corte nas pensões, ouviu-se às primeiras horas do dia. Mas como sempre acontece no guião que há seis meses define o duelo entre o Governo grego e os líderes europeus, não demorou muito para que a palavra capitulação desse lugar ao seu antónimo: resistência.
Afinal, Alexis Tsipras, na carta que enviou terça-feira à noite ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ao diretor do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, e à presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, com conhecimento do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e do presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade, Klaus Regling, dizia coisa diferente. Numa frase: o Governo grego aceita as condições dos credores divulgadas no último fim de semana, mas exige algumas alterações e clarificações.
Foi quanto bastou para que se regressasse ao ponto de partida e, na Europa, todos os responsáveis adiassem qualquer negociação para depois do referendo do próximo domingo. "Até lá, não voltaremos a falar, nem sobre propostas nem sobre eventuais empréstimos", assegurou Dijsselbloem.
Os ministros das Finanças da Zona Euro dizem agora esperar que o Governo grego apresente um "plano realista" para que as negociações sobre o terceiro resgate (já pedido por Tsipras) possam ser "iniciadas". Mas o Eurogrupo considera que "o discurso" do primeiro-ministro grego não contribui para melhorar a confiança necessária nem a vontade de "cooperar".
"Infelizmente, o discurso de Alexis Tsipras [ao início da tarde, na televisão pública] não fortaleceu a confiança no Governo grego, nem demonstrou vontade para cooperar da parte de Atenas", afirmou o ministro finlandês das Finanças, em comunicado. Alexander Stubb adiantou que "os países da Zona Euro ainda estão dispostos a negociar uma solução para a situação grega", mas remetem o início de conversações para depois de 5 de julho. "Primeiro temos de olhar para o resultado do referendo. E, para terem início quaisquer negociações, a Grécia deve elaborar um plano de resgate à economia grega que seja realista, bem como um plano de ações a empreender para a sua implementação."
Entretanto, o Conselho da Europa considerou que o referendo desrespeita os padrões da instituição para consultas populares, nomeadamente no que respeita ao curto prazo em que foi marcado. Apesar disso, Tsipras apelou ao voto no "não" e assegurou que não significa a rutura com a Europa. Pelo contrário. "Significa a melhoria das condições na negociação com as instituições."
Numa altura em que as sondagens apontam para a vitória do "sim", também o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, decidiu intervir. No caso, no seu blogue, no qual assegurou que "o lugar da Grécia na UE e na Zona Euro não é negociável". E reiterou por que razão os gregos devem ousar votar "não". Porque os credores recusam reduzir a dívida pública, apesar de saberem que é impagável. Porque acreditam numa reestruturação da dívida. Porque o Eurogrupo admitiu em 2012 a reestruturação. E porque as instituições europeias melhoraram as propostas desde que foi anunciado o referendo.