Alto Douro Vinhateiro completa, esta terça-feira, 20 anos de Património Mundial. Proveitos subiram com aumento de alojamento. Em média, surgiu uma nova unidade por mês desde 2011.
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Os números disponíveis não são tão redondos como os 20 anos que o Alto Douro Vinhateiro completa hoje como Património Mundial, todavia permitem ter uma noção do salto que o turismo deu na região onde se produz o vinho do Porto. O setor da hotelaria quase quintuplicou e só entre 2015 e 2019 faturou 174 milhões de euros.
Este dado de receitas fornecido ao JN pelo presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), Luís Pedro Martins, atesta a importância que tem tido o galardão atribuído pela UNESCO em 2001. Mas "ainda há espaço para crescer", com a preocupação de que o aumento de atratividade "não seja feito apenas em quantidade, mas em valor". Este "valor" significa apostar mais em "mercados de alto rendimento", como "EUA, Brasil, Canadá, França e Reino Unido". Ou seja, que os turistas que visitam o Douro deixem nele mais dinheiro e que cheguem durante todo o ano e não apenas no verão e durante as vindimas.
Mas há que crescer sem cometer erros como no passado. Luís Pedro Martins aponta "a sustentabilidade ambiental, a preservação da paisagem natural e vinhateira, e o controlo sobre a arquitetura".
5,3 milhões de dormidas
Entre 2010 e 2020, segundo dados da Pordata, a região passou de 34 para 165 unidades de alojamento de várias tipologias destinadas ao turismo (uma nova por mês em média) e distribuídas pelos 19 concelhos que integram a Comunidade Intermunicipal do Douro. Parte deles resultam da reclassificação de pensões, residenciais e hospedarias.
De acordo com a TPNP, a região duriense passou de "2300 camas em 2002 para 4580 camas em 2020". No mesmo período receberam "3,4 milhões de hóspedes que resultaram em 5,3 milhões de dormidas".
dois exemplos
Algumas foram registadas na Casa da Trigueira, pequeno alojamento de seis quartos em Santa Eugénia, Alijó, que resultou da recuperação de uma casa de lavradores. O gerente, António Martinho, foi presidente da Turismo do Douro. "Os números são elucidativos. Há uma diferença enorme entre o que o Douro era há 20 anos e o que é hoje", salienta, destacando "para além da oferta de camas, a quantidade de atividades em que os turistas podem participar".
Martinho frisa que, "em 2001, contavam-se pelos dedos da mão o número de quintas que se abriam ao turismo". Hoje, muitas delas já dispõem de alojamento e animação. É o caso da Quinta da Salada, em Cambres, Lamego. Abriu há dois anos e tem capacidade para 14 pessoas pernoitarem. "A decisão adveio do crescente número de turistas que a região atrai", diz o gerente Rui Lima, considerando que "é uma boa forma de diversificar a atividade económica que apenas estava assente na produção de uvas".
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Treze municípios
A área do Alto Douro Vinhateiro Património Mundial ocupa 24 600 hectares de 13 municípios ribeirinhos: Alijó, Armamar, Carrazeda de Ansiães, Lamego, Mesão Frio, Peso da Régua, Sabrosa, Santa Marta Penaguião, São João da Pesqueira, Tabuaço, Torre de Moncorvo, Vila Nova de Foz Côa e Vila Real.
Quatro distritos
Para além dos concelhos ribeirinhos e com área classificada pela UNESCO - pertencentes aos distritos de Bragança, Vila Real, Guarda e Viseu - a região duriense ainda inclui os municípios de Freixo de Espada à Cinta, Murça, Tarouca, Moimenta da Beira, Sernancelhe e Penedono.
Cem iniciativas
As comemorações arrancam hoje com uma cerimónia evocativa, em Lamego, e prolongam-se até 14 de dezembro de 2022. O programa inclui uma centena de iniciativas distribuídas pelos concelhos durienses.
Diferenças
30 mil pessoas a menos
Em 20 anos, foram recuperados 500 quilómetros de muros de xisto característicos dos socalcos vinhateiros do Douro. São um dos elementos distintivos da região que é Património Mundial da UNESCO.
500 km de muros de xisto
Em 20 anos de Património Mundial, o Alto Douro afirmou-se como um importante atrativo turístico do país, mas não conseguiu travar a hemorragia populacional. Passou de 220 mil para 190 mil habitantes.