Chama-se Laboratório de Investimento Social, foi apresentado no final de fevereiro, é uma iniciativa do Instituto do Empreendedorismo Social e da Fundação Gulbenkian e pretende ser um centro de conhecimento e difusão de práticas de investimento na área da economia social.
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Basicamente, ensina os espíritos mais solidários e empreendedores a fazer crescer um projeto e a captar investimento para o transformar num negócio. "Visamos um setor de investimento social, tentando atrair a atenção de fundações, business angels e famílias abastadas" , resume Filipe Santos, coordenador científico do Laboratório de Investimento Social (LIS). "O objetivo é trazer novos fundos, novo capital, do setor privado para o setor social", pormenoriza.
Um exemplo para seguir
Um caso concreto deste tipo de lógica é o do projeto "Fruta Feia". Sabendo que 30% da fruta vai para o lixo - só porque tem uma pequena mancha, por exemplo - uma empreendedora decidiu pedir aos agricultores que lha vendessem com 30% de desconto. Ganhariam eles e ganharia o consumidor, porque a compraria depois com 10% de desconto. Foi um sucesso.
E é aqui que entram os tais novos instrumentos de investimento na área social. "Pode optar-se por uma filantropia estratégica, ou seja, uma fundação decide investir no projeto e, depois, no caso de haver lucro, reaverá parte do que investiu, para apoiar outra ideia. Normalmente, as fundações que têm um fundo de filantropia estratégica também têm uma equipa que acompanhará todo o processo", esclarece Filipe Santos.
Mas qual é a vantagem de solicitar este investimento a uma fundação e não a um banco? "Um banco provavelmente não financiaria, porque estamos a falar de um projeto que comporta um grande risco", explica. Se, entretanto, este começar a crescer e a possibilidade de vir a ser lucrativo for cada vez mais real - mesmo que ainda com uma margem de risco para os bancos - então, aí, pode entrar no processo um outro instrumento: o investimento de impacto, isto é, quem investe já o faz esperando o retorno financeiro.
Ajudar o Estado
Esta é, assim, uma lógica que pode apoiar os espíritos mais empreendedores, dinamizando o tecido empresarial, mas que "pode também ajudar o próprio Estado", refere.
"Imagine um privado que decide apoiar uma instituição social, com o compromisso de reaver do Estado parte daquilo que poupou ao erário público", exemplifica. A este instrumento de investimento chama-se "título de impacto social".
Se uma fundação decidir investir num projeto de acompanhamento a ex-reclusos e com esse acompanhamento a reincidência criminal baixar, num determinado período, oito pontos percentuais, isso poupará ao Estado muito dinheiro. Ora, o Estado pode, vistos os resultados, devolver à tal fundação parte do investido.
Garante Filipe Santos que é por aqui que deve passar o futuro, pois "estando o Estado em retração e tendo nós consciência de que não haverá a mesma disponibilidade para financiar a área social, é preciso alterar a lógica, premiar os resultados também".
Resumindo, é preciso atrair novos atores para esta área. Mas, estarão eles despertos? "Isto ainda é algo muito novo para Portugal, mas sim, há muitas fundações que já estão abertas a este tipo de modelo, o caso da Gulbenkian, da Fundação Mais, da Fundação EDP", congratula-se.