Pela primeira vez desde o início da crise, os portugueses estão a pedir mais empréstimos para comprar casa. Cada família deve fazer as contas à sua vida, mas todas devem seguir sete conselhos, reunidos pelo JN com a ajuda do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
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1 - Comprar ou arrendar?
É a primeira pergunta a responder. Se pode ficar desempregado a qualquer momento, se acredita que os seus rendimentos vão baixar ou se admite emigrar, por exemplo, então arrendar uma casa pode ser a escolha certa. Mas se quer mesmo comprar, escolha a casa que melhor o serve, pensando que se vai comprometer com um banco para os próximos 30 ou 40 anos. Não necessitará de uma casa com cinco quartos se, dentro de poucos anos, os filhos seguirem a sua vida.
2 - Vá a todos os bancos.
Os portugueses costumam ser fiéis ao seu banco, mas deve pedir informações ao maior número possível instituições - até para poder negociar com a instituição com que sempre trabalhou. Peça a todos uma simulação, sempre por escrito.
3 - Se não compreender as simulações, peça ajuda.
A linguagem usada pelas instituições financeiras pode ser difícil de perceber. Sempre que não compreender alguma informação que consta das simulações, deve pedir ajuda. Em Portugal há poucas instituições isentas de aconselhamento financeiro, mas algumas existem, como associações de defesa do consumidor ou de direito ao crédito. Também se pode aconselhar junto de profissionais, como advogados ou contabilistas.
4 - O mais provável é que os juros subam.
Um empréstimo para comprar casa é um compromisso para 30 ou 40 anos. A maior parte dos bancos cobra uma taxa de juro variável, que sobe ou desce mediante a evolução de um indexante, por norma a Euribor. Nestes últimos anos, esta taxa tem estado nos valores mais baixos de sempre, mas é de esperar que, um dia, suba. Conte, por isso, que o valor da prestação mensal também subirá. Os bancos são obrigados a dar três simulações de prestação mensal: com um valor atual da taxa de juro, com um aumento de um ponto percentual e com o aumento de dois pontos percentuais. É importante que consiga pagar a prestação mesmo com este aumento dos juros. Em alternativa, há bancos que propõem taxas de juro fixas. É preciso ponderar bem no momento de escolher.
5 - Cuidado com mecanismos para baixar a prestação
Os bancos podem oferecer mecanismos que baixam o valor da prestação no início do empréstimo. Por exemplo, só pagar juros durante o primeiro ano e daí em diante começar também a amortizar capital. Ou deixar para o fim do empréstimo uma fatia grande do valor do empréstimo. Estes mecanismos ajudam a pagar o crédito no início, mas quem compra deve estar consciente que, quando acabaram, o valor da prestação vai aumentar. Também obrigam à compra de determinados produtos (de poupança ou seguros, por exemplo). Há que estar atento.
6 - Fazer um orçamento familiar
Durante dois ou três meses, tome nota de todas as despesas da família. Assim ficará a saber quanto gasta em bens essenciais (água, luz, alimentação, etc) e quanto em bens dispensáveis. O valor da prestação mensal ao banco de todos os créditos não deve ser superior a 33% (um terço) do rendimento da família, mas o melhor é fazer as contas todos os meses e ver, ao certo, quanto pode pagar. Não se esqueça de, se possível, fazer alguma poupança, para despesas imprevistas.
7 - Cuidado com a avaliação que o banco faz da casa
Se já encontrou o empréstimo e se a prestação mensal é compatível com o orçamento da família, o banco irá avaliar a casa. Em Portugal, os bancos tradicionalmente são cautelosos nas avaliações, mas é aconselhável certificar-se que não dão um valor muito diferente do valor real do mercado. Uma das vantagens é: se tiver que o vender por alguma razão, aumenta as hipóteses de ter dinheiro suficiente para pagar o empréstimo ao banco.
Se estiver a pensar em pedir um empréstimo para comprar outras coisas, deve seguir alguns dos cuidados já referidos, e alguns outros:
1 - Pedir um empréstimo para pagar um empréstimo
É sinal claro de que algo de errado se passa e, no ano passado (últimos dados existentes), era ainda esta a tendência. Se está a pedir um empréstimo para pagar outro, considere-se um sobre-endividado e peça ajuda.
2 - Cartões de crédito a 100%
São uma forma de crédito fácil, de trazer na carteira, mas muito caro. Os cartões de crédito podem dar vantagens (como devolver 1% do valor das compras ou dar descontos), mas só compensam se pagar a conta a 100% no final do mês. Se a dividir em prestações, vai pagar uma taxa de juro muito alta. Cuidado em particular quando precisa de comprar bens essenciais, como a alimentação, com cartão de crédito - é mais um sinal de alarme.
3 - Cuidado com o crédito instantâneo
Os anúncios só falam das facilidades: o dinheiro é dado na hora, para o que a família quiser e nalguns casos até pode dizer quanto quer pagar por mês. Mas quando a esmola é grande, deve-se desconfiar. Estes créditos cobram uma taxa de juro muito alta. Se estiver a pensar em fazer um, pergunte quanto irá pagar (somando todas as comissões, taxas e prestações) e compare com o valor que está a pedir. Assim terá uma noção do custo do crédito e poderá decidir se é no seu interesse fazer um.