Operadores de panificação já estão a pagar mais caro pelo trigo e apontam a subida do preço do pão nas próximas semanas. Fornecedores de farinhas descartam a rutura no fornecimento, mas afirmam que, face à subida das matérias-primas, vão ser obrigados a repassar o custo aos clientes.
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O bloqueio da economia ucraniana e as sanções impostas à Rússia também fizeram disparar o preço dos cereais, o que vai provocar uma subida "inevitável" do pão e de outros produtos de panificação nas próximas semanas, asseguram as associações do setor.
Apesar de Portugal não importar o trigo da Ucrânia e da Rússia, que juntas representam 30% do fornecimento mundial deste cereal, a guerra está a deixar sobrecarregados os mercados onde o país se abastece. "A magnitude dos aumentos está a ser violenta, não só no preço das farinhas, como também dos combustíveis e da energia. A subida do preço do pão é inevitável", garante Hélder Pires. O presidente do conselho fiscal da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação (ACIP), com mais de mil associados, já foi informado pelos fornecedores de que a situação vai agravar-se. "Nos próximos 15 dias, a farinha pode aumentar entre 100 e 120 euros a tonelada, o que representa um aumento de 25% face ao preço atual", revela ao JN.
O cenário está a provocar algum alarmismo nos operadores de padaria, que estão a aumentar os stocks para evitar o pior. "Uns têm receio que haja rutura, outros estão a tentar comprar a farinha mais barata e atrasar o aumento da matéria-prima. Obviamente que isso vai criar pressão".
Do lado dos fornecedores, o administrador da Germen, empresa responsável pela transformação de cereais em farinhas, garante ao JN que "não vale a pena açambarcar o produto" porque a rutura no fornecimento "não está minimamente em causa". Luís Ramos, que também preside a Associação Portuguesa da Indústria de Moagem (APIM) lembra que o país importa 95% do trigo panificável, e face ao aumento da matéria-prima, as empresas "vão ser obrigadas a repassar o custo para evitar fechar portas".
Quem vai sofrer é o consumidor, que terá que pagar mais pelo pão. "Temos consciência da responsabilidade social que temos, porque o pão é basilar na alimentação. Mas também não adianta ter um pão caro que depois não se consiga vender. Isto vai deixar as empresas com grandes dificuldades de sobrevivência", antevê Hélder Pires.
Aumentar produção nacional
Além da subida em flecha dos cereais, o aumento dos combustíveis cria dificuldades acrescidas à indústria, que recebe grande parte da matéria-prima importada por via marítima. "Estas últimas subidas têm impactado fortemente no preço dos fretes marítimos, de tal forma que dobraram nas últimas semanas", aponta Luís Ramos.
Para contornar tantas variações, o administrador da empresa de moagem sediada em Matosinhos afirma que Portugal deve aumentar a produção. "Devíamos assegurar entre 15 a 20% da produção de trigo panificável porque estas situações vêm pôr a nu a necessidade de o país ter alguma autosuficiência".
O presidente da APIM acredita que o facto de o país não ter stocks de segurança de cereais também traz dificuldades e cria pressão no setor. "É uma situação que estamos a tentar corrigir e achamos que o Governo está atento. Todo o armazenamento do cereal que há está nas mãos dos privados, não há qualquer intervenção estatal".
Números
33%
Desde o início da invasão russa à Ucrânia, o trigo já se valorizou em média mais de 30% nos principais mercados internacionais.
120 euros
é quanto pode aumentar a tonelada de farinha de trigo nos próximos 15 dias, representando um aumento na ordem dos 25%