A Comissão Europeia (CE) vai investigar alegadas subvenções do Governo chinês aos fabricantes locais de automóveis elétricos, que estão a invadir o mercado com veículos baratos e já com uma qualidade aceitável. E nem a Tesla parece escapar às suspeitas.
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O fim, anunciado para 2035, da comercialização de veículos com motor a combustão na Europa tem levado a um crescimento exponencial das vendas de veículos elétricos (VE) e os números têm demonstrado que os fabricantes europeus demoraram a reagir, com modelos ou demasiado caros ou com autonomias que ainda não convencem os consumidores, pouco habituados a uma rotura tão grande no que à mobilidade diz respeito.
Sem falar no facto de que as reservas de matérias-primas necessárias para as baterias, pelo menos no atual estado de evolução, estarem concentradas... na China, país que, talvez por isso, é o maior produtor mundial de baterias para VE, fornecendo mesmo as marcas europeias.
Cem marcas
Como se fora pouco, atualmente há na China cerca de uma centena de fabricantes de automóveis elétricos, número que tem vindo a diminuir (há alguns anos havia 500 empresas a fabricar VE), mas ainda assim suficientes para assustar a indústria europeia.
É raro o mês em que não surja uma nova marca chinesa no mercado, vendendo carros com preços competitivos e com uma qualidade acima de qualquer suspeita.
Não admira, por isso, que a exportação de VE pela China tenha aumentado 110%, entre janeiro e agosto deste ano. E, atente-se neste número, em 2022 o mercado chinês absorveu perto de seis milhões elétricos, mais do que em todos os outros países do mundo juntos.
Subvenções
Apesar dos encargos com a mão obra estarem muito abaixo dos praticados na Europa, a Comissão Europeia suspeita que os preços baixos sejam o resultado de massivas subvenções à indústria pelo Estado chinês. E anunciou agora uma investigação, que pode estender-se à norte-americana Tesla, marca que, recorde-se, tem baixado de forma sistemática o preço dos seus modelos.
"No que respeita à concorrência desleal, as nossas empresas europeias enfrentam com demasiada frequência a concorrência de atores estrangeiros fortemente subsidiados. Pensemos na indústria automóvel. [...], mas ao mesmo tempo os mercados mundiais são inundados por carros elétricos chineses baratos e o seu preço é mantido artificialmente baixo graças a enormes subsídios estatais", declarou, esta terça-feira Ursula von der Leyen.
Mas os alertas dos construtores têm-se sucedido e, no passado mês de julho, em entrevista ao Autosport, o CEO do grupo Stellantis, Carlos Tavares, alertava para que “quando se mantém o mercado aberto, convida-se os construtores chineses”.
“E eles têm uma vantagem competitiva de 25%, enquanto nós, de momento, temos de digerir 40% de custos superiores, que é o custo da eletrificação. Isso é uma grande diferença”, rematou.
Os fabricantes chineses defendem-se, negando os subsídios e anunciaram a sua intenção de abrir fábricas de produção de automóveis e de baterias na Europa.
Para agravar o panorama, analistas alertam para que esta investigação pode transformar-se numa enorme guerra comercial, de consequências imprevisíveis, antecipando retaliações por parte das autoridades chinesas no que diz respeito aos produtores fabricados em solo europeu.