Os telemóveis estão entre os produtos mais desejados, mas, na maior parte dos casos, só aparecem as capas.
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A King Colis, empresa pioneira na venda de encomendas perdidas, instalou a sua primeira pop-up store, em Portugal, no centro comercial Espaço Guimarães. Esta quarta-feira, mesmo antes da abertura, a fila já serpenteava pelos corredores do “shopping”. A oferta é limitada e quando acabar não há mais. Para Guimarães, a empresa trouxe seis toneladas de pacotes e tem mais seis de prevenção nos armazéns em Paris, para tentar ter "stock" até ao último dia, no domingo. Entre as pessoas que aguardavam na fila, o objeto mais desejado era o telemóvel, mas é preciso ter sorte porque as embalagens não podem ser abertas antes da compra.
Poucos minutos antes da abertura, Killian Dennis, um dos sócios fundadores da King Colis, estava satisfeito. “Trouxemos seis toneladas e já percebemos que não vai chegar até domingo, temos mais seis, em Paris, prontas para serem enviadas”, refere. Estas encomendas são compradas a empresas de logística que ficaram com elas porque não as conseguiram entregar (morada errada é o caso mais vulgar). Na maior parte das situações, os produtos vêm do Oriente e as empresas não querem suportar os custos de as recuperar. A King Colis compra estas encomendas às empresas de logística e coloca-as no mercado a peso: 1,99 euros o pacote standard e 2,79 os premium. “É um bem escasso, até porque já há outras empresas no mercado a fazer o mesmo, por isso, quando acaba a mercadoria, termina mesmo”, esclarece Killian Dennis.
Telmo Silva, de 24 anos, e a namorada Marta Costa, de 21, viram a publicidade no centro comercial, informaram-se na internet e decidiram tentar. Telmo Silva está a festejar o seu aniversário e espera ser bafejado pela sorte, confessando ter lá ido para se divertir. Diana Araújo, de 24 anos, leva o processo mais a sério. “Já estive numa loja deste tipo, no Porto, e foi bom negócio. Gastei cerca de 50 euros e saiu-me uma bolsa da Longchamp e dois pares de calças, que eram o meu número, no valor de 60 euros cada. Também tive direito a uns vernizes para tratar a micose”, conta a rir.
Manuel Gomes, de 15 anos, não tem dúvidas relativamente ao que quer que lhe saia: “Um telemóvel”, confessa. O jovem foi com a mãe, Marina Abreu, de 45 anos, o irmão Matias Gomes, de oito, que quer ver as compras despachadas para ir ao McDonald’s, e a tia Alcinda Abreu. Marina Gomes está disposta a gastar no máximo 40 euros, a irmã só quer gastar 30 e Diana Araújo diz que pode ir até aos 60 se as encomendas a atraírem.
Não é possível abrir as encomendas
Os embrulhos mais procurados são os que têm a dimensão aproximada de um telemóvel. Os clientes agitam os pacotes junto ao ouvido para tentarem apurar o conteúdo. Depois de saírem da loja e de os abrirem, percebem que, na maior parte dos casos, são apenas capas para telefones. Manuel Gomes não teve o seu desejado telemóvel, mas conseguiu uma máquina fotográfica digital. O casal de namorados esticou-se no investimento e foi até aos cem euros. A maior parte das encomendas só vão ser abertas em casa, mas a que abriram em frente ao JN trazia uma t-shirt cor-de-rosa, tamanho L. “Era gira para mim, mas é do tamanho dele e com esta cor, não sei”, comenta Telma Silva, divertida.
Uma cliente entusiasmada com uma caixa com as dimensões de um telemóvel abre o pacote apressada. Depois de levantar a tampa exterior encontra uma segunda cobertura. Por baixo, não está o tão esperado telefone, mas uma caixa com um spray que diz ser a última maravilha para o tratamento das hemorroidas. A cliente ficou desiludida, mas encarou com bom ânimo a situação e riu-se com quem estava à volta. Na encomenda que abriu a seguir acabou por encontrar um lenço de seda. “Vou oferecê-lo à minha mãe”, referiu.
Conceito ajuda a uma economia circular
Killian Dennis afirma-se orgulhoso do trabalho da sua empresa. “Estas encomendas seriam destruídas. Aquilo que fazemos é dar-lhes uma nova vida, num conceito de economia circular”, apontou. A King Colis faz duas pop-up stores por semana, em diferentes cidades da Europa - por estes dias, Guimarães e Amesterdão - e está presente em dez países. A empresa tem planos para voltar a Portugal no próximo mês e meio, com as cidades de Lisboa e Porto na mira.
A King Colis teve uma faturação de quatro milhões de euros no ano passado e espera atingir os seis milhões este ano, mas Killian Dennis reconhece que é um mercado que está limitado pelas encomendas que existem disponíveis e alerta: “há empresas a vender encomendas falsas”.
Além da máquina fotográfica, Manuel Gomes ainda descobriu, entre os pacotes que a mãe adquiriu, um teclado dobrável para computador, duas capas de telemóvel e um comando para Playstation. “Agora só preciso de convencer a minha mãe a comprar-me a consola, já tenho o comando”, resigna-se.