O ex-presidente do conselho de administração dos CTT Carlos Horta e Costa afirmou ontem na TVI ter anunciado nos jornais a intenção de vender o maior edifício que a empresa pública tinha em Coimbra.
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Mas, segundo informações recolhidas pelo JN, não foram identificados quaisquer anúncios pela empresa de capitais públicos. Na verdade, terá sido um empresário e militante do PSD de Coimbra, Carlos Godinho, a contactar a administração dos CTT no sentido de saber do interesse da empresa em vender o imóvel.
Carlos Godinho terá mandatado o seu advogado, Vítor Coelho da Silva, para negociar com os CTT. Mas acaba por ser o seu amigo Luís Vilar, então presidente da Concelhia do PS/Coimbra e consultor da TCN, a mudar o rumo dos acontecimentos. A troco de uma comissão, Godinho aceita "vender" o negócio à TCN, que viria a utilizar uma empresa veículo, a Demagre, para fazer a compra.
Depois de o imóvel de Coimbra ter sido avaliado em 17 milhões de euros, é vendido, em 2003, por 14,7 milhões à Demagre, que o revende no mesmo dia, por 20 milhões, à Espírito Santo activos Financeiros.
A mais-valia terá sido proporcionada pela carteira de arrendatários garantida por colaboradores da Demagre, junto de entidades públicas, para ocupação de espaços do prédio. Actualmente, estão instalados no imóvel o Tribunal Administrativo de Coimbra, os próprios CTT, uma clínica com protocolos de financiamento público e a Associação de Informática da Região Centro, cujas rendas são pagas pela Câmara de Coimbra.
A PJ propõe a acusação por prevaricação aos actuais presidente e vice-presidente da Câmara de Coimbra, Carlos Encarnação e João Rebelo (PSD), e a sete vereadores que aprovaram a instalação de uma associação no antigo edifício dos CTT.
Júlio Macedo e Pedro Garcês, proprietários da empresa que comprou o edifício aos CTT, estão indiciados por fraude fiscal, branqueamento, corrupção activa e tráfico de influências. Este crime também é imputado a Paulo Pereira Coelho (ainda não constituído arguido), então secretário de Estado e hoje deputado pelo PSD, por ter tentado convencer a Administração Regional de Saúde a garantir protocolos de financiamento à referida clínica. Já a corrupção activa atribuída a Macedo e Garcês tem a ver com pagamentos efectuados ao sub-director da área imobiliária dos CTT, Luís Ramos, e ao então presidente da concelhia do PS/Coimbra, Luís Vilar.