O antigo presidente executivo da Oi e da Portugal Telecom (PT), Zeinal Bava, disse, esta quinta-feira, não se lembrar de quem na PT decidiu investir 500 milhões de euros em dívida da Espírito Santo International (ESI).
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"Não vou dizer que foi fulano, sicrano ou beltrano, não me recordo", disse Zeinal Bava na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES).
O responsável estava a ser confrontado com o investimento da PT em maio de 2013 em 500 milhões de euros de dívida da ESI, do GES. "Não tenho memória desse tema específico", declarou o gestor.
Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a 31 de dezembro de 2013, a PT indicava que tinha uma dívida de 750 milhões de euros da ESI, do grupo GES, no final desse ano.
A ocultação de dívida na ESI tem sido um dos temas centrais da comissão de inquérito e foi um dos elementos que contribuiu para a queda do GES e do BES.
A comissão de inquérito teve a primeira audição a 17 de novembro passado e tinha inicialmente um prazo total de 120 dias, até 19 de fevereiro, mas foi prolongado por mais 60 dias.
Os trabalhos dos parlamentares têm por objetivo "apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos e as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo do GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades".
Zeinal Bava disse ainda que a elevada concentração de aplicações financeiras da operadora no Grupo Espírito Santo (GES) se devia à participação acionista detida pelo BES na PT.
"Em 2000 estabelecemos uma parceria estratégica com o Banco Espírito Santo (BES) e com a Caixa Geral de Depósitos (CGD). Nesse contexto, em situação de igualdade, seria normal que as equipas financeiras dessem primazia aos parceiros", afirmou o gestor.
E realçou: "A relação da PT com o BES e a CGD era de confiança. O dinheiro investe-se nos bancos e a única decisão que havia [quando a PT recebeu o encaixe financeiro relativo à venda da sua posição na Vivo à espanhola Telefónica] era manter o dinheiro em instituições portuguesas ou no estrangeiro".
Segundo o responsável, enquanto a CGD manteve a sua posição acionista na PT (manteve uma participação qualificada até ao final de 2013), houve uma preocupação por parte da gestão da operadora em fazer aplicações quer no BES, quer no banco público.
"Enquanto tínhamos dois parceiros, as aplicações eram divididas 'salomonicamente' entre ambos", referiu.
"Ou deixávamos o dinheiro no sistema financeiro português ou metia-mos lá fora. Na altura foi uma decisão consensualizada no conselho. Se havia mais investimento num do que no outro banco, é porque um nos dava mais remuneração do que o outro", frisou.
Zeinal Bava escusou-se a esclarecer se alguma vez recebeu diretamente um pedido do BES ou de Ricardo Salgado para que a PT investisse em dívida do GES.
"Todos os investimentos nessas sociedades foram sempre honrados", salientou, referindo-se até à data da sua saída da liderança executiva da PT, em junho de 2013.