Os preços das casas subiram 15% em média no país entre 2016 e 2018, mas a pressão imobiliária não afeta todos. Paços de Ferreira é exceção à especulação no Porto. As cidades do Interior são incapazes de travar perdas.
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Nos dois últimos anos, o preço da habitação aumentou em 15%, mas Portugal é tudo menos uniforme. No reverso da moeda das áreas metropolitanas do Porto e Lisboa, onde o valor do metro quadrado continua a subir, estão 63 concelhos (um quinto do total) onde o preço mediano desceu. Ou seja, as casas vendem-se por menos dinheiro do que há dois anos.
No mapa do país, é sobretudo na margem esquerda do Douro, no centro e interior das Beiras e do Ribatejo, no Alentejo e na fronteira com Espanha que os preços mais estão deprimidos. Entre o terceiro trimestre do ano passado e a mesma altura de 2016, o Instituto Nacional de Estatística mostra que a mediana do preço da habitação caiu em 20% dos concelhos.
É sinal da falta de dinamismo económico destas regiões e da decorrente perda de população. "O preço responde em função da procura, o aumento dos preços é uma realidade em Lisboa, no Porto e pouco mais", diz Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e das Empresas de Mediação Imobiliária (APEMIP).
Surpresa transmontana
O preço aumenta quando há mais pessoas à procura de casa, a não ser que existam casas vazias que amorteçam a pressão sobre o preço. Será o que acontece na Figueira da Foz ou em Óbidos, admite João Ferrão, professor de Geografia no Instituto de Ciências Sociais de Lisboa.
As regiões cujos preços têm baixado são as expectáveis, disse, com duas exceções. A primeira é a região de Coimbra, cujos aumentos moderados exigem "uma reflexão estratégica". A segunda é o Médio Tejo, que João Ferrão antecipava mais procura, já que se adivinha como quarto anel em torno de Lisboa, em função da ligação de comboio.
Na Área Metropolitana do Porto, a tendência é semelhante, mas menos acentuada: a subida de preços no centro empurra as pessoas para periferias cada vez mais afastadas, sobretudo em função das acessibilidades. O professor salienta, a propósito, a importância de olhar para os movimentos populacionais quando se estudam redes de mobilidade.
Além destas duas surpresas pela negativa, Ferrão salienta o dinamismo de Trás-os-Montes e do Alto Tâmega. Poderão estar a beneficiar do facto de lá haver poucos stocks de casas vazias e de cidades médias estarem ainda a atrair população das aldeias, admite. Luís Lima acrescenta o dinamismo introduzido pelo turismo, que cria emprego e ajuda a fixar e atrair população.
Quanto ao Porto e Lisboa, os preços não só estão altos como continuam a subir. As casas em construção, por isso, terão preços incomportáveis para a classe média e baixa. Luís Lima atribui ao Estado Central e às câmaras a responsabilidade de garantir que os portugueses têm onde viver. Até por uma questão de regulação de mercado: se aumentar a oferta de casas a preços mais baixos, o resto do parque imobiliário também tenderá a ficar mais barato. "As pessoas têm de se convencer de que não é tudo ouro e petróleo", diz.
Porto
Cinco freguesias de Oliveira de Azeméis em queda
Na Área Metropolitana do Porto, Oliveira de Azeméis surge como uma exceção: contém cinco das 12 freguesias que viram o preço das casas cair. No conjunto de Oliveira de Azeméis, o preço do imobiliário subiu 5%; mas em Macieira de Sarnes, Loureiro, São Roque e as Uniões de Nogueira do Cravo e Pindelo e de Pinheiro da Bemposta, Travanca e Palmaz os preços estão mais baixos do que há dois anos.