O cancelamento da maioria dos festivais de música este ano vai ter um impacto superior a 1,6 mil milhões de euros na economia portuguesa. Para se ter noção do valor, equivale a um ano de exportações de todo o setor do calçado.
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Para esse montante contribui uma quebra de 80% no volume de negócios de todas as empresas que operam indiretamente no setor. Significa que os dois mil milhões de euros gerados pelos quase 300 festivais de 2019 nunca serão, em 2020, superiores a 400 milhões.
Segundo o relatório anual da Associação Portuguesa de Festivais de Música (APORFEST), realizaram-se 287 festivais no ano passado, e a música representou pelo menos dois terços dessa programação. Esses eventos geraram uma injeção de cerca de dois mil milhões de euros brutos na economia, muito à custa do dinheiro gasto pelos festivaleiros em transportes, sobretudo de carro, mas também de avião.
De resto, os transportes (1,7 mil milhões) e os bilhetes (200 milhões) são, de longe, a fatia que mais concorre para o impacto económico. Mas o contributo dos festivais para as finanças do país também é fornecido por outros negócios adjacentes. O Vodafone Paredes de Coura e o Nos Primavera Sound, por exemplo, trabalham com "cerca de 120 empresas e muitas delas dependem exclusivamente dos festivais", revela João Carvalho, da promotora Ritmos.
Cultura emprega 130 mil
A paralisação do setor dos espetáculos, com particular enfoque nos festivais de música, tem implicações profundas no universo do alojamento e da restauração, promotoras, músicos, técnicos de audiovisual e marcas que patrocinam os eventos [ver texto ao lado].
"O número, que parece muito grande, não é assim tão grande, se percebermos de onde vêm os festivaleiros. Muitos são estrangeiros", esclarece Ricardo Bramão, presidente da APORFEST. A perda no volume de negócios das empresas é percetível em localidades como Paredes de Coura, onde o presidente da autarquia, Vítor Paulo Pereira, contabiliza que o festival homónimo tenha um "impacto económico para a região de perto dos cinco milhões de euros". Nas "estimativas mais conservadoras", diz.
Álvaro Covões, da promotora Everything Is New , organizadora do NOS Alive, em Oeiras, adianta que o impacto económico do festival na região de Lisboa situa-se "entre 50 a 60 milhões de euros". O mesmo aconteceria se o Rock in Rio se realizasse, uma vez que estes eram os dois maiores festivais agendados para este ano.
"O INE mostra que 130 mil pessoas trabalham no setor cultural, e eu diria que 90% dessas pessoas estão paradas", avalia Álvaro Covões. A informação é corroborada por Luís Montez, da Música no Coração, que organiza o Super Bock Super Rock e o Sudoeste: "Desde março vendemos zero bilhetes. Sem receitas é complicado. Só quando o medo passar vamos ter capacidade para seguir em frente".
