Se nunca ouviu falar de doença venosa crónica, vale a pena atentar nos seguintes dados: oito em cada dez pessoas no mundo sofrem desta maleita. Em Portugal, estima-se que a doença afete um em cada três indivíduos.
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Trata-se, portanto, de um problema comum, capaz de reduzir a qualidade de vida e com repercussões a nível socioeconómico, tendo em conta que a doença pode causar dor crónica e incapacitante e, consequentemente, perda de dias de trabalho e antecipação da reforma.
Particularmente evidente nos países desenvolvidos, a doença venosa crónica consiste, nas palavras de Joana Ferreira, médica especialista em cirurgia vascular, num "conjunto de queixas relacionadas com o mau funcionamento das nossas veias". Tendemos a confundi-la com as varizes, mas a doença está muito para lá disso. Na verdade, estamos perante uma anomalia do funcionamento do sistema venoso causada por uma incompetência das válvulas que existem nas veias que pode, no limite, ser fatal.
Dor ou sensação de pernas pesadas é, esclarece a farmacêutica Gabriela Plácido, "o primeiro sintoma, a que se junta, em alguns casos, algum inchaço". Devemos correr para o médico? "Não necessariamente. O mais correto é avaliar a dimensão da sintomatologia, para percebermos se o problema está numa fase inicial ou avançada. Se não for possível proceder a algum alívio sintomático, então a ida ao médico é o caminho a seguir", diz a técnica. "Aos farmacêuticos compete fazer uma primeira triagem e intervir na prevenção".
Genes: a causa primária
Há um conjunto alargado de fatores que originam a doença, mas "o principal é uma causa primária: o doente herda geneticamente o problema", esclarece Joana Ferreira. "Se os dois progenitores tiveram a doença, a possibilidade de a passarem aos filhos é de 90%. Depois, há outras circunstâncias que agravam a questão, como a obesidade, o tabagismo, o facto de a pessoa passar muito tempo em pé ou sentada, um estilo de vida sedentário", explica a médica. "O calor agrava os sintomas", acrescenta Gabriela Plácido (ver caixa).
Dadas as causas, o diagnóstico precoce é essencial. "Apesar de a população estar hoje mais informada, é verdade que, muitas veze, o doente não valoriza as queixas e não as associa à doença venosa crónica. Acha-se que é normal ter "varizes" com o avançar da idade, logo não procuram o médico", refere Joana Ferreira. "Ora, quanto mais depressa detetarmos o problema, melhor".
As mulheres apresentam maior tendência para a doença, por questões hormonais. "Mas também estão mais atentas, desde logo por questões estéticas", nota Gabriela Plácido. "Isso foi muito evidente com a pandemia", atalha Joana Ferreira. "Notamos um enorme aumento da procura, não apenas porque, por estarem muito tempo sentadas, as mulheres sentiram as pernas mais inchadas, mas também porque tiveram mais tempo para olhar para as pernas". "A falta de acesso aos hospitais fez aumentar os pedidos de apoio e orientação", acrescenta a farmacêutica.
O calor e os lugares quentes são um problema sério para quem sofre de doença venosa crónica, uma vez que dilatam as veias e aumentam a estagnação, ou imobilidade, do sangue nos vasos capilares. Por isso, passar água fria nas pernas, assim como permanecer em locais frescos, é aconselhado, uma vez que estimula o funcionamento venoso e alivia a dor e sensação de pernas pesadas. Massajar as pernas de baixo para cima também ajuda ao retorno venoso.
O que fazer para diminuir o risco de doença venosa crónica? Além da prática de exercício regular, que estimula a contração muscular e o retorno venoso, é importante fazer uma alimentação rica em fibras (vegetais), com boa hidratação e reduzir a ingestão de gorduras saturadas (como, por exemplo, manteiga). Evite roupa muito apertada (comprime as veias e dificulta a circulação) e use calçado com saltos de três a quatro centímetros, em detrimento de sapatos de salto ou rasos.
E, claro, consulte o médico, ou aconselhe-se com o seu farmacêutico, se algum dos sintomas o apoquentar.