As alterações climáticas trazem cada vez mais algas tropicais para junto da costa portuguesa. São espécies que podem conter toxinas que põem em risco a pesca de bivalves.
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"Com o aumento da temperatura, vamos passar a ter espécies tropicais ou subtropicais que não estamos habituados a ver", alerta Vítor Vasconcelos, administrador do CIIMAR - Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental.
Prova de que os riscos para a pesca de bivalves são já uma realidade é o aumento de episódios das chamadas "marés vermelhas". Explosões de microalgas que existem com abundância nas Canárias, em Cuba e no Pacífico e que começaram a aparecer em Portugal com maior frequência na última década. "Vão ser cada vez mais comuns e a apanha de bivalves fica cada vez mais limitada, porque essas microalgas têm toxinas que se acumulam no mexilhão, na ostra, na amêijoa e podem causar doença humana e eventualmente morte".
Essas toxinas só não chegam mais ao nosso prato porque o Instituto Português do Mar e da Atmosfera monitoriza os bivalves em todo a costa portuguesa, explicou Vítor Vasconcelos durante uma conversa em direto no JN North Festival, incluída nas iniciativas que marcam os 134 anos do JN, este ano com o pensamento no mar enquanto "Porta para o futuro".
Uma vez que o combate às alterações climáticas implica mudanças de comportamento ao longo de décadas, a solução passa por iniciativas de mitigação, medidas preventivas como a instalação de "sensores no mar para detetar a presença das algas", para que as zonas de problemáticas sejam detetadas de forma a impedir o consumo de marisco proveniente desses pontos.
"Os bivalves que consumimos e que são comprados nas lotas, nas peixarias, à partida são seguros, mas se formos com a família para a praia e recolhermos mexilhão, ou ostra ou lingueirão, podemos correr o risco de comer estes bivalves contaminados". Os investigadores do CIIMAR já detetaram mesmo três casos de intoxicação relacionados com estas algas tropicais.
Florestas marinhas em risco e o potencial da aquacultura
Mesmo que todos começássemos agora a adotar comportamentos de risco nulo para a sustentabilidade do planeta, não conseguiríamos impedir o aumento da temperatura do planeta em dois graus e essa transformação, que está a mudar a vida aquática passa também pela diminuição das florestas marinhas.
A zona do Porto é o "limite sul de grandes florestas marinhas", de algas que atingem 20, 30 metros de altura e que com as alterações climáticas "estão a desaparecer", lamenta Vítor Vasconcelos.
"São ótimas maternidades de peixes como o robalo, a dourada, todas as espécies carnívoras que vivem junto à costa e se destruímos estas florestas deixamos de ter essas espécies". Cenário idêntico ao que é enfrentado pelas pradarias marinhas, no sul do país. As pradarias são campos de ervas no mar que abrigam muitas espécies.
"As pessoas quando vão à praia veem uma película azul e não sabem o que está por debaixo. O mar só pode ser respeitado quando for conhecido".
Uma outra forma de garantir a preservação das espécies é a aposta crescente na aquacultura, já que cerca de 50% do peixe consumido é selvagem. "Isto tem de diminuir porque o recurso não aumenta e a população está a aumentar", defende, comparando com o consumo de proteína terrestre, conseguida através de produção intensiva.
"A aquacultura é a solução, não vamos deixar de consumir pescado selvagem, mas a aquacultura é sustentável". Também aqui o CIIMAR tem apostado na investigação, nomeadamente no desenvolvimento de rações adequadas que contaminem pouco o meio ambiente.