A definição avançada por Joana Ferreira, médica especialista em cirurgia vascular, é simples: "A doença venosa crónica é definida como o conjunto de queixas que os doentes apresentam resultante do mau funcionamento das veias".
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Mas o problema é complexo, na exata medida em que se estima que a doença afete um em cada três portugueses, causando-lhes sérias complicações: redução da qualidade de vida, repercussões a nível socioeconómico, dores crónica e incapacitantes e, consequentemente, perda de dias de trabalho e antecipação da reforma.
"Doença venosa crónica - frequentemente desvalorizada" foi o tema do webinar realizado pela Jornal de Notícias, Diário de Notícias e TSF, numa parceria com a farmacêutica Servier. A conversa pode ser vista em www.jn.pt.
O problema da subvalorização foi sublinhado pela farmacêutica Gabriela Plácido. "A falta de conhecimento sobre a doença e o facto de as pessoas não relacionarem alguns dos sintomas com a doença é uma realidade", esclareceu a especialista. "As pessoas só reconhecem [a doença] quando já existe a variz, mas ela começa muito antes. É aqui que os profissionais de saúde têm que batalhar, desde logo porque há tratamento e meios para minimizar o risco das complicações e melhorar a qualidade de vida".
Joana Ferreira concorda. "A Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular tem feito várias campanhas nos últimos anos, mas a informação ainda não chegou à população", assinala a médica, para quem o diagnóstico precoce é de extrema importância: "Quando apresentam os primeiros sintomas, os doentes devem recorrer ao médico. Acharem que é normal sentirem a perna pesada ou cansada é o primeiro passo para não travar a tempo a progressão da doença".
Dada a proximidade com o doente, o papel do farmacêutico é muito relevante. "Essa proximidade permite identificar proactivamente o problema e lançar um alerta para a importância de falar com o médico nas consulta regulares", diz Gabriela Plácido. "O importante é sensibilizar a pessoa para o facto de estarmos perante uma potencial doença. Os estudos mostram que, quanto mais precocemente ela for identificada, melhores são resultados", sublinha a farmacêutica.
Joana Ferreira soma outra preocupação. "As varizes são apenas a manifestação clínica mais conhecida. É nisso que os doentes pensam, quando falamos da doença venosa crónica, mas ela é muito mais do que isso. Há um conjunto muito amplo de manifestações clínicas" para as quais é preciso estar atento (ver Perguntas e Respostas). Até porque, aponta a médica, a doença venosa crónica por ser fatal. "Acontece muito raramente, mas às vezes ocorrem embolias pulmonares como consequência de uma trombose venosa superficial. E noutros casos, igualmente raros, a rutura da variz por um sangramento mortal."
Quais são, afinal, as causas da doença venosa crónica? "São várias", responde Gabriela Plácido. "Os antecedentes familiares são muito importantes. Há estudo que mostra que, no caso de ambos os progenitores terem a doença, há cerca de 90% de possibilidade de os descendentes virem a contraí-la. Nestas situações, as varizes aparecem em idades mais precoces do que na maioria dos casos, em que o envelhecimento prevalece como causa". Acrescem outros fatores, como a obesidade, a falta de exercício físico, o sedentarismo, o tabagismo. "Profissões que exigem que as pessoas estejam muito tempo em pé ou sentadas, em posição estática, também não ajudam nada", acrescenta a farmacêutica, que desaconselha "o uso de roupas apertadas e calçado com saltos altos ou muito rasos, sobretudo nas mulheres, geneticamente mais atreitas a este problema."
Há, apesar de tudo, sinais de esperança. Apesar da subvalorização da doença e da falta de informação, "nos últimos anos temos recebido doentes em fase mais precoce", refere Joana Ferreira. Por outro lado, "a resposta do SNS [Serviço Nacional de Saúde] tem melhorado. Já conseguimos fazer tratamentos menos invasivos, propondo medicação para melhorar o funcionamento das veias e evitar a propagação da doença. Às vezes, basta o uso adequado de meias elásticas para resolvemos o problema e evitarmos a intervenção cirúrgica", concluo a médica.