O acolhimento familiar, que visa basicamente a inserção temporária de crianças deslocadas do seu seio parental em famílias dispostas a recebê-las, é uma medida com bons resultados em vários países europeus.
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No entanto, esta é uma realidade ainda pouco explorada em Portugal, onde a colocação de menores desfavorecidos em instituições de acolhimento continua a existir bastante, pese embora haver cada vez menos nessa situação. A conclusão saiu da segunda "Conversas por boas causas", uma iniciativa da TSF, do "Jornal de Notícias" e da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), onde a institucionalização de crianças e jovens em risco foi o tema central.
"Toda a evidência científica afirma que crescer numa instituição é completamente diferente de crescer num contexto familiar. Por melhor que seja uma casa de acolhimento, não se compara com uma família. Isto está estudado e é consensual, só que nós não temos ainda a cultura do acolhimento familiar em Portugal", refere Rui Godinho, responsável pela Direção de Infância e Juventude da SCML.
Respostas especializadas
Uma ideia corroborada também por João Paiva, um jovem que na infância foi recebido por uma instituição e que, apesar de ter criado laços afetivos com o pessoal técnico que o acompanhou inclusive durante a idade adulta, reconhece as vantagens associadas às famílias de acolhimento. "É uma medida que só vem criar mais proximidade e fazer com que as crianças criem hábitos e referências e, portanto, tenham mais estabilidade e afetos. No fundo, vão estar num ambiente familiar e não com 12 jovens à volta em que um deles pode ser instável e influenciá-las", comentou.
Por isso, segundo sustenta Rui Godinho, o caminho deve passar por privilegiar as famílias de acolhimento enquanto solução para estas crianças e reduzir a institucionalização a casos particulares. "Na Santa Casa da Misericórdia, a ideia passa por tentar a desinstitucionalização ao máximo, reconfigurando as casas de acolhimento para dar respostas mais especializadas", afirmou o responsável.
Detalhes
Realidade mudou
Há 20 anos, a carência económica era a maior causa da institucionalização das crianças. Hoje são os conflitos parentais.
Apoio às famílias
Rui Godinho defende a criação de equipas especializadas para ajudar as famílias biológicas, diminuindo assim casos de separação.
Institucionalização está a diminuir
Último relatório CASA refere que há, no presente, 6700 crianças em instituições. Há dez anos eram 8500.
Acolhimento familiar
Em Portugal, no ano de 2019, menos de 4% das crianças separadas dos pais foram inseridas em famílias de acolhimento.
Na Europa predomina
Em várias nações europeias, o acolhimento familiar predomina. Só em Espanha, 60% das crianças em risco estão neste regime.