Tragédias ocorridas recentemente estão a aumentar as desigualdades e a atirar os desfavorecidos para um cenário de ainda maior fragilidade.
Corpo do artigo
Nas últimas semanas, a atualidade foi marcada pelas cheias e pelas suas consequências devastadoras ao nível material e humano, sobretudo em Lisboa. A este flagelo juntam-se outros, como a guerra ou os grandes fluxos migratórios. A servir de denominador comum para todos eles está o facto de, geralmente, serem os mais vulneráveis, em termos sociais e económicos, a passarem por um sofrimento maior. A situação destas pessoas e o tipo de resposta que a sociedade pode oferecer-lhes esteve no centro do "Conversas por Boas Causas", uma rubrica levada a cabo por TSF, "Jornal de Notícias" e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML).
"A proximidade é muito importante. Quem está próximo, tem mais facilidade para acudir a famílias com grande vulnerabilidade que, de repente, ficam sem meios de subsistência", comentou Rita Valadas, presidente da Cáritas, precisamente a propósito das recentes chuvadas e do papel das instituições sociais e dos municípios no auxílio às populações.
A mesma lógica é válida, por exemplo, para o fenómeno dos sem-abrigo. "Há muita gente que sente a rua como a sua morada e para a tirar de lá é precisa uma solução de construção, feita em conjunto com as pessoas porque, se isso não acontecer, não haverá sucesso", asseverou Rita Valadas.
Sérgio Cintra, administrador da SCML para a Ação Social, corroborou a visão da presidente da Cáritas e apontou outro dos grandes problemas sociais do momento: o de imigrantes timorenses em condição precária. "Continuam a chegar voos vindos de Timor com um conjunto de pessoas que aterram em Portugal sem virem preparadas para o que vão encontrar. Independentemente disso, nós temos o dever de as enquadrar e apoiar" defendeu. O administrador da SCML chamou ainda a atenção para "a carência de trabalhadores na área do mercado social" que, no seu entender, "deve ser resolvida por pessoas com coração", sendo que, segundo Sérgio Cintra, "um coração de um português vale por muitos no contacto diário e na intervenção comunitária".
À lupa
Pobreza nacional
Segundo dados divulgados pela Pordata, em 2020, a pobreza atingia 18,4% da população portuguesa.
Apoios nacionais
O mesmo relatório da Pordata revela que sem apoios sociais, haveria mais de quatro milhões de portugueses na pobreza.
Imigrantes timorenses
Cerca de três mil pessoas oriundas de Timor chegaram a Portugal recentemente. Centenas delas vagueiam pelas ruas, sem casa.
Sem-abrigo
No Porto e em Lisboa, o número de pessoas a viver em situação de sem-abrigo aumentou 25% nos últimos meses.
Orçamento municipal
A Câmara de Lisboa aprovou um pacote de medidas de apoio a pessoas sem-abrigo no valor de 1,3 milhões de euros.