
Âncora encontrada em Gaia, no Centro Interpretativo do Património da Afurada.
Foto: Maria João Gala
No Centro Interpretativo do Património da Afurada dá-se a conhecer o modo de vida e a ancestralidade desta localidade. Há novas peças para conhecer - bem como uma app recente - e vale sempre a pena ver a "clássica" caíca ou a coleção de miniaturas.
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Foi em 2020 que, ao passar pelo areal do Cabedelo, em Gaia, um homem encontrou uma âncora gigante. Apenas o cepo, a parte superior, restava. Este, construído em madeira, tinha um tamanho invulgar: 3,30 metros. Ainda há muito para descobrir acerca deste objeto arqueológico que se pode visitar no Centro de Interpretação do Património da Afurada (CIPA), instalado desde 2013 em antigos aprestos, barracões utilizados para guardar material de pesca.
Com descobertas e doações constantes, o CIPA vai adicionando peças. "Queremos que as pessoas tenham sempre novidades para ver", diz Francisco Saraiva, arquiteto e gestor de projetos da autarquia. O cepo da âncora gigante, que ainda está a ser estudado, é dos mais enigmáticos, principalmente devido ao tamanho. "Não sabemos de que ano é, mas pelo que estudei deverá ser do século XVIII, pois os cepos de madeira não foram muito utilizados depois e a qualidade do ferro devia ser baixa, porque partiu", diz. "Há registo de um navio da armada inglesa com 50 canhões que tinha uma âncora com cepo de 2,50 metros. Provavelmente, esta seria de um barco ainda maior."
Outra hipótese é que se trataria de uma âncora fundeada junto à Ponte Luís I, utilizada pelos barcos comerciais que entravam no Douro. A equipa decidiu preservar a peça como foi encontrada, com todas as incrustações de organismos marinhos, "o que lhe dá ainda mais interesse".

Outra aquisição relativamente recente é uma cravadeira, máquina utilizada nas fábricas de conserva. "A trabalhadora punha a lata já com as sardinhas e o azeite e fazia girar um disco com o pedal, a alta velocidade, para selar a lata, que iria depois para o forno para fazer a pasteurização." Este objeto foi cedido pela fábrica Ramirez, de Matosinhos, mas também terão existido cravadeiras na unidade de conservas que funcionou na Afurada até meados dos anos 1980, a fábrica Pereira Júnior.
Entre as peças que estão no museu há mais tempo, destaque para o motor náutico, chamado de lambreta (o nome oficial é British Seagull). "Esta peça é muito importante para a população da Afurada. Costumam dizer que foi este motor que lhes tirou da fome", conta Francisco Saraiva. Antes, os barcos pequenos eram movidos a remos. Este motor a gasolina permitiu que embarcações como bateiras ou as tradicionais caícas pudessem deslocar-se mais longe da costa e com segurança.

Uma caíca tradicional, a última construída na Afurada de propósito para este projeto, pelos mestres Carlos e Afonso Marques, está também em exposição. E quem quiser saber mais sobre estes e outros objetos pode ler, no local, os códigos QR que fazem ligação à app lançada este ano pelo museu. Lá, há textos (e áudio) explicativos, em português e em inglês.
Em breve haverá também um roteiro pela vila. As caixas de eletricidade estão a ser intervencionadas por artistas e vão possuir um código QR que permitirá, na mesma app, ler sobre determinados sítios, histórias e tradições, como o lavadouro ou o porto de pesca.
Até dia 1 de outubro é ainda possível visitar no CIPA a exposição "Sardinha - O sem fim da pesca do cerco", do fotógrafo Helder Luís.
Centro Interpretativo do Património da Afurada
Rua António dos Santos, 10, Vila Nova de Gaia
Tel.: 227 710 093
Web: parquebiologico.pt-/centro-interpretativo-do-patrimonio-da-afurada
Das 10h às 12h30 e das 13h30 às 18h. Não encerra.
