Entre 10 e 15 de setembro, a vila minhota de Ponte de Lima celebra mais uma edição das Feiras Novas. Com mais de um século de tradição, as festividades refletem a história e identidade da comunidade limiana, numa programação com muita música, recriações históricas e animação para toda a família.
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As robustas estruturas desenhadas para a diversão dos mais novos começam a erguer-se no extenso areal de Ponte de Lima. São já alguns os jovens que se reúnem à volta dos carrinhos de choque, aproveitando os últimos dias de férias. Em escassos dias, Ponte de Lima torna-se um marco nacional de festividades, tradição e mostra da cultura minhota.
Este ano, as Feiras Novas realizam-se de 10 a 15 de setembro, em Ponte de Lima, numa celebração especial dos 900 anos da atribuição do foral à vila. A programação estreia-se com uma arruada de concertinas e a tradicional abertura da iluminação.
A música tradicional, com concertinas, bombos e gaita de foles é assegurada durante os seis dias, em momentos diferentes e assinalados. Durante a noite a música continua na Expolima, num ambiente mais jovial.
Sexta-feira, a programação musical inclui cantares ao desafio, fados e tunas académicas, a ter início às 21h30.
Já o fim de semana fica marcado pelos cortejos etnográfico e histórico, sábado e domingo respetivamente, a ter início às 15h30, e pelos tradicionais gigantones e cabeçudos, acompanhados pelos Zés Pereiras e Gaiteiros da parte da manhã. À noite, a par da animação musical tipicamente minhota, acontece o fogo de artifício sobre o rio Lima.
Para terminar as celebrações em honra da tradição, segunda-feira é dedicada à Nossa Senhora das Dores, padroeira das festas com uma missa e uma procissão em sua honra.
De um dia para seis, a tradição mantém-se
Para compreender o contexto histórico e cultural das ilustres festividades, é necessário fazer uma longa viagem à época da monarquia, mais precisamente a cinco de maio de 1826.
Um pedido conjunto ao monarca, uma motivação religiosa e uma feira que se realizava desde o século XII são as principais características que motivam as atuais Feiras Novas.
"Foi em 1826 que o rei D. Pedro IV permitiu, depois de um pedido da comunidade limiana, que o costumeiro dia de feira passasse para três dias de festividades, honrando a Nossa Senhora das Dores, padroeira da festa", explica o presidente da Associação Concelhia das Feiras Novas, Gonçalo Rodrigues.
Para distinguir as novas celebrações da antiga feira, curiosamente a mais antiga de Portugal, o que aliás combina com a designação da vila minhota, as festividades adquiriram a designação de Feiras Novas.
Volvido mais de um século, e apesar da evolução registada, quer em termos de atividades como no número mais prolongado de dias de celebração, a organização tenta manter, dentro do possível, as atividades que eram praticadas antigamente, como elucida Gonçalo Rodrigues.
"Tentamos manter, por exemplo, a Feira do Gado, ainda que atualmente não exista propriamente uma feira, mas sim um mercado de gado", esclarece, acrescentando que, em contrapartida, existe "um concurso pecuário de grande monta, onde é possível ver os animais".
O carácter religioso das festividades não é esquecido, sendo celebrado no último dia das Feiras Novas, com uma missa solene e uma procissão em honra de Nossa Senhora das Dores.
Identidade limiana em desfile nas ruas
Um dos pontos chave das ilustres Feiras Novas é o cortejo etnográfico, uma mostra viva da cultura e identidade do povo limiano e das características de cada freguesia.
Com cerca de 61 anos, nas contas de Gonçalo Rodrigues, o cortejo surge de uma iniciativa protagonizada por algumas freguesias do concelho, que decidiram "ir até à vila [de Ponte de Lima] e mostrar o que, para elas, era mais característico e identitário das suas paróquias", recorda.
Dada a tradição e a herança rural do concelho, a representação das paróquias no cortejo está "muito ligado às atividades, práticas e tradições associadas ao campo", explica.
A iniciativa, que começou com menor adesão e que à época teve grande notoriedade, em especial nos meios de comunicação existentes, como refere, assume atualmente uma dimensão muito mais significativa.
Recriando os costumes e tradições do concelho, os figurantes desfilam com os trajes tradicionais, cartazes e até carros alegóricos especialmente desenhados. Acompanha-os a música tradicional, com concertinas, bombos e gaita de foles, muitas vezes distinta de paróquia para paróquia.
As representações passam por atividades agrícolas como a desfolhada, a malhada do centeio, a ripada da azeitona ou o cultivo do feijão; usos e costumes como a matança do porco, a Páscoa ou a pesca da lampreia e atividades artesanais, tais como a arte da pirotecnia e a arte da pedra.
Mais de um século de história em cortejo
Desfilando nas principais artérias da vila minhota, e representando a história do concelho, indubitavelmente ligada ao reinado de D. Teresa e atribuição do foral, o cortejo histórico tem lugar no domingo das festividades.
Assegurando lugar nas bordas das ruas por onde os figurinos desfilam, é prática costumeira o aglomerado que aguarda ansiosamente o tradicional cortejo. Aqui e além avistam-se os típicos banquinhos de lona, previamente comprados para tornar a espera mais confortável.
À semelhança do cortejo etnográfico, os figurinos são acompanhados por carros alegóricos, cartazes e cavalos.
Na data em que se assinala os 900 anos do foral de Ponte de Lima, o cortejo recria o período histórico de atribuição deste documento ao concelho e a realização da primeira feira daquele que se viria a constituir Portugal.
Cabeçudos e gigantones animam as ruas
Quem já visitou as festividades ou conhece as tradições nacionais, está familiarizado com os bonecos de grandes cabeças que desfilam pelas ruas da vila durante as Feiras Novas. Pois bem, apesar de não terem origem na vila, são parte integrante e insubstituível destas comemorações e designam-se por Gigantones e Cabeçudos.
Com uma vida dedicada à arte destas figuras, José Dantas explica que "as figuras gigantes tinham uma relação muito próxima com a religião, começando depois a adquirir um carácter profano, logo após serem utilizadas em romarias e procissões".
Apesar do aspeto semelhante, Gigantones e Cabeçudos tem uma diferença estruturante: o tamanho. Enquanto os Cabeçudos apresentam o tamanho médio da pessoa que o traja, os Gigantones podem atingir quatro metros de altura. Acompanhados pela música tradicional minhota, garantem parte da animação das ruas.
Apesar destas figuras de pasta de papel virem de várias localidades do país, as Feiras Novas são indissociáveis da figura de Matilde, criada para representar as Feiras Novas "no virar do século 2000, através do logótipo das festividades", esclarece José Dantas.