
Esta “utopia em construção” fica na Rua Gomes Freire, em Arroios.
Foto: Rita Chantre
Seis mil metros quadrados de jardins, hortas e atividades artísticas abertas à comunidade ajudam a aliviar a carga negativa do antigo hospital psiquiátrico Miguel Bombarda. Um esforço do Largo Residências, cooperativa social e cultural fundada em Arroios.
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Alheios ao ruído dos autocarros que passam atrás do muro, os pássaros chilreiam alegremente nas copas dos pinheiros-mansos que sombreiam os Jardins do Bombarda, o centro comunitário e cultural que há menos de um ano veio ocupar parte do antigo hospital psiquiátrico fundado no reinado de D. Maria II, em 1838, na antiga Quinta de Rilhafoles. Foi para aqui que se mudaram as valências da cooperativa cultural Largo Residências, depois de 11 anos sediado no Largo do Intendente e de uma estadia de dois anos no quartel do Largo do Cabeço da Bola, em Arroios.
Nesta “utopia em construção”, como anuncia a tarja gigante virada para a Rua Gomes Freire, o coletivo composto por 15 cooperantes - de áreas tão diversas quanto a fotografia, a arquitetura, a dança, o teatro e a produção cultural - dá continuidade à missão de “desenvolvimento através de atividades culturais e negócios sociais que promovem a criação artística” e a integração das comunidades em redor, de maneira autossustentável. Algumas dessas atividades decorrem no Jardim Romântico perfumado por nespereiras, laranjeiras, limoeiros, figueiras e com uma horta.
“Cada um dos encontros mensais dos cuidadores do jardim tem um tema, que pode ser sobre a compostagem ou técnicas de semeadura” em torno da pequena horta, explica José Luís Costa, membro da Direção da cooperativa. O acesso ao jardim de canteiros, com mesas e cadeiras a incentivar o convívio, é livre e gratuito. “Até agradecemos que as pessoas colham nêsperas, já que as árvores estão carregadíssimas”. Noutro setor fica o Planalto, equipado com um palco de eventos ao ar livre e 25 secções modulares em madeira ocupadas pelos projetos permanentes.
No coração dos Jardins do Bombarda encontra-se o pinhal, plantado por alguns dos pacientes daquele hospital, que permaneceu fechado ao público uma década após a desativação, há 13 anos. “A intenção do Largo Residências foi dar-lhe um novo significado, sem desvirtuar toda a história associada. Criar um lugar de encontro na natureza”, completa o responsável. Paletes fazem de bancada, troncos cortados dispõe-se em círculos e há brinquedos de madeir pouco convencionais para as crianças se entreterem. Num forno comunitário, coze-se pão e pizas.
Artistas em residência
O Largo Residências acolhe meia-centena de projetos, alguns artistas em pequenas casas autónomas, e dispõe de snack-bar e restaurante. Na vertente cultural recebe também, temporariamente, parte da produção do Teatro Nacional D. Maria II, na Sala Estúdio Valentim de Barros. Este espaço homenageia o primeiro bailarino português a internacionalizar-se, na década de 1930, e que esteve quase 40 anos internado naquele hospital por ser homossexual.
Jardins do Bombarda
Rua Gomes Freire, 161 (Arroios)
Tel.: 218885420/926235355
Web: largoresidencias.com
De terça a sábado, das 10h às 00h. Domingo, das 10h às 22h. Encerra à segunda.
Acesso livre.

