A vida corre devagar, como deve ser,na rica região que abarca Alto Tâmegae Barroso. Uma riqueza feita de passeios,ar puro, aventura e alimento para o corpo.
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É com um fio de água, que não sendo linha é como uma costura, que se cose o Alto Tâmega e Barroso. Terra que se faz de seis concelhos, como se fossem seis dedos de uma mão, que trabalham, resistem e se mostram, tranquilos, a despertar os cinco sentidos, quiçá mais alguns se os houvesse. Terra de água quente e medicinal que brota da terra, agricultura farta, gentes afáveis, ar puro, aventura e Natureza sem fim.
Curioso, no mínimo, como sendo tantos conseguem ser como uma só região, unidos não por uniformidade, mas por essa estranha arte de serem diversos sem se negarem uns aos outros. Completam-se como se já soubessem desde sempre que era assim que haviam de ser.
“É aqui que eu gosto de estar!”, exalta o posto de turismo com porta aberta na Alameda do Tabolado, em Chaves, nas vistas largas para os 264 pontos de interesse de Chaves, Ribeira de Pena, Valpaços, Vila Pouca de Aguiar, Boticas e Montalegre. Estes dois últimos abraçados ao título de Património Agrícola Mundial, único na Península Ibérica e um dos poucos do Mundo.
São quase três mil quilómetros quadrados, “território de encantos”, anuncia o guia turístico, com 84 mil pessoas a viver nele, gente de “bem-receber” que convida para uma “região de bem-estar”, que até os romanos povoaram para se tratarem e preservarem a saúde. Recorriam às águas termais que correm por baixo da pele da terra e usufruíam da Natureza, sim, com maiúscula, porque aqui ela é uma senhora.
A Ramiro Gonçalves, primeiro secretário da Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega e Barroso, brilham-lhe os olhos com o crescimento turístico da região. Passou de “190 mil dormidas em 2019 para mais de 450 mil em 2024”. E só contam os estabelecimentos com mais de dez quartos, que são os validados pelo Instituto Nacional de Estatística.
Só o eixo termal, que começa ainda Espanha, gera “um ativo importante” em Chaves com “14 mil visitantes por ano”, mas também em Vidago, ainda no concelho flaviense, onde existem dois campos de golfe, e nas Pedras Salgadas, fonte de “água mineral conhecida internacionalmente”.
Vivas ao vinho tão distinto, desde o maduro de Valpaços, algum feito em lagares rupestres, ao verde de Ribeira de Pena e ao “Vinho dos Mortos” de Boticas. Vão estes néctares como um mimo de mão dada à mesa com o fumeiro que se pendura nos varais das terras frias, como se fosse memória pendurada no tempo, e com as carnes certificadas, a barrosã e a maronesa, que são orgulho e sustento, assim como com o folar de carne, em que não pode faltar o azeite das terras quentes, e ainda com a castanha assada no borralho. Estes, estas e muitos mais a formar uma riqueza que não se mede só em moeda, mas também em vida vivida, em histórias contadas ao lume, em silêncio partilhado com a montanha.
Entre quem é
Não foi ao lume que Dina e Hélder contaram a sua paixão pelas ENCOSTAS DE SONIM, nome da empresa em terra de brancos, tintos e rosés, em Valpaços, que é a dela, Macedo de Cavaleiros a dele. Gosto crescente o dele depois de ler a cartilha de Fernando Pessoa, o de Sonim, claro, pai dela, que de poeta tem o sonho, agora continuado pelos dois jovens, adeptos confessos do bem transmontano “entre quem é”.
E ao entrar, se de vinhos não foi a escrita suficiente, há de ser melhor com o almoço tipicamente transmontano que por lá servem, sob encomenda, numa adega de saca-rolhas espetados no teto e vinhos enfiados numa garrafeira em madeira e bom gosto, ao lado do museu da história familiar, onde, diz Hélder, “já se choraram saudades” sobre objetos do antigamente.
Sonim é daquelas terras em que o vinho se dá e não só por bairrismo dos locais, pois que ao enólogo que agora assina os vinhos dos Pessoa e Martins só foi preciso nomear-lha uma vez para ir pelo país acima aceitar o convite que antes recusara. “Foi uma oportunidade que não podia deixar escapar”, recorda Hélder. Visitar e provar na Encostas de Sonim é possível a partir dos 10 euros. A reserva pode ser feita no site na internet.
Mas outras zonas há no concelho de Valpaços onde o néctar é também verdadeiramente transmontano, que nem melhor nem pior é que noutras do país vinhateiro, apenas diferente por ter caraterísticas distintas e cada vez mais aclamadas.
Estão todos na CASA DO VINHO, que ali abriga o farto roteiro das maravilhas gastronómicas, enológicas, patrimoniais e naturais valpacenses. É obrigatório passar por lá antes de partir à descoberta, nomeadamente da Ecovia do Rabaçal, nome do rio onde pontua uma praia fluvial, e na imponente Via Ferrata que atrai “gente de todo o Mundo”, diz o vice-presidente da Câmara de Valpaços, Jorge Mata Pires. É no vale do Rabaçal que existe “provavelmente a maior concentração conhecida no Mundo de lagares rupestres escavados na rocha”.
Difícil será não se perder na montra da Casa do Vinho dedicada também ao azeite, mel, castanha, frutos secos, entre muitos outros. Tudo vendido a preço de produtor. E imperdoável será sair de lá sem ir dar ao dente o afamado Folar de Valpaços, único certificado em Portugal, que todas as padarias do concelho confecionam ao longo do ano.
A meia hora que o carro leva de Valpaços a Chaves mal chega para programar o tanto que há para ver, provar e desfrutar na Aquae Flaviae, terra do pastel de massa folhada com carne picada, da ponte romana com mais de 2000 anos, das poldras no rio Tâmega, do quilómetro zero da famosa Estrada Nacional 2, de fortes e castelos, de museus como o de ARTE CONTEMPORÂNEA NADIR AFONSO e das Termas Romanas. Interesse sem fim é o que tem despertado a nova atração flaviense e que dá um novo impulso às Termas de Chaves. Trata-se do novo Aquae Salutem (ver caixa).
A rota termal leva-nos ainda a Vidago (Chaves) e a Pedras Salgadas, em Vila Pouca de Aguiar, onde se destaca um parque de natureza que convida a passeios a pé, onde pontua um spa no qual se pode desfrutar de piscinas aquecidas, sauna e banho turco. Fazem bem ao corpo e à mente.
Nas Pedras Salgadas existe ainda o centro hípico onde se realiza “um dos mais conhecidos concursos de saltos a cavalo (este ano a 6, 7 e 8 de junho), com vários cavaleiros internacionais”, de acordo com Julieta Branco, técnica de turismo do Município de Vila Pouca de Aguiar. Também é possível aprender a andar a cavalo neste centro hípico, com batismo de saltos. O equitador André Franco está lá para ajudar.
Ainda em Vila Pouca de Aguiar, concelho de minas de ouro romanas, há que subir à Lagoa do Alvão e passar pelo Centro de Educação Ambiental, que abre de março a outubro, onde Bruno Bastos explica “as espécies que podem ser encontradas numa paisagem espetacular”. Destaca a “lontra europeia, o esquilo vermelho e diversa avifauna”.
A atividade do centro tem também uma função de formar as crianças e jovens para a necessidade de preservar o meio. É, até, por isso que muitas pessoas vão até lá apenas pelo prazer de se deitar de costas na erva a olhar o céu, a sós ou em família, em tarde de fazer nenhum a bem do descanso do corpo e da mente, fazer um churrasco, ou então andar a pé ou de bicicleta.
Mandar o stresse passear
No BOTICAS PARQUE - NATUREZA E BIODIVERSIDADE o tempo de lazer pode contar-se em horas investidas em passeios à beira do rio Beça, entre a alta floresta, numa visita ao moinho de água ou a fazer companhia aos burros, galinhas e cães de gado, ou outras espécies menos afoitas a estarem à mão de semear dos humanos. “Um parque multifacetado com 60 hectares e muitas atividades viradas para a família e muita preocupação com o ambiente”, refere Ricardo Mota, do Município de Boticas, orgulhoso por poder contar lá com “mais espécies de borboletas do que o Reino Unido todo”.
A Associação Ambiental Celtiberus tem um protocolo com a câmara e, segundo o responsável Nuno Teixeira, dinamiza o parque de Boticas com atividades e está num posto de acolhimento onde se pode saber o que fazer no local, nomeadamente caminhadas, passeios de caiaque e arborismo. Quem fica nos dois pequenos alojamentos do parque pode “colher o que a horta estiver a dar na altura e levar os ovos que as galinhas tiverem posto”. “Slow life”, rotula Ricardo, que na vila recomenda uma visita ao Centro de Artes Nadir Afonso, cuja mãe era natural de Sapelos, aldeia do concelho.
Claro que há quem tenha outras formas de mandar o stresse passear, que bem pode ser aos gritos no PENA AVENTURA PARK, em Ribeira de Pena. No salto negativo há sempre aquela impressão de se estar preso a uma fisga e que, tal qual desenho animado, há de ser disparado aos céus, com as botas a ficarem presas ao chão, e ir cair lá longe. Sorte que os elásticos que levam ao céu também devolvem à terra. E são “só” 17 metros. Mas, valha a verdade, quem sai disparado, como a Sofia, a Fernanda e o Alberto, berra por todo o lado, enquanto quem fica a ver não se livra de uma barrigada de riso.
Neste parque há imensos divertimentos, mas os mais procurados são o Alpine Coaster e o Fantasticable. Em ambos casos é melhor não ser medricas. Se o é e arrisca, a sensação de sair de lá triunfante não será inferior à de um 007 com missão cumprida. Do Pena Aventura Park vislumbra-se o espaço ainda em construção onde ficará um parque de inverno com pista de esqui. Mais uma carta no baralho da cada vez maior atratividade ribeira-penense e transmontana.
Exemplo esmagador de atratividade de turistas é a Sexta 13, a próxima em junho, uma das maiores festas de rua do país, que põe Montalegre pelas costuras, com dezenas de milhares de pessoas apertadas nas estreitas ruas da vila, qual lava de um vulcão de poções mágicas e caras de susto a deslizar devagar entre o casario. É à volta do CASTELO que a queimada idealizada pelo padre Lourenço Fontes se sorve, entre caretas, e aquece as almas. As não penadas, que das outras não parece ainda haver testemunho, apesar de na capital do misticismo tudo ser possível. E é por acreditar nisso que tanto ali acorrem bruxas, lobisomens e mortos-vivos, e muitos mais que, não sendo nem uma coisa nem outra, apenas enchem as encostas do castelo para um espetáculo do outro mundo.
Montalegre é terra de corridas de automóveis, algumas com estrelas mundiais, as consagradas e as que um dia o hão de ser. Carros potentes, muitos com 600 cavalos, a comer asfalto e terra no circuito internacional, para gáudio, mormente, dos aficionados espanhóis. “É uma forma de espalhar a marca Montalegre por todo o Mundo”, diz Otelo Rodrigues, da Câmara Municipal. Em maio haverá três provas: Taça de Drift (3 e 4), Campeonato de Portugal de Ralicross (10 e 11) e Campeonato de Portugal de Drift (31 e 01 de junho).
Na sala imersiva
Outro espaço a dar que falar é o AQUANATUR PALACE, aberto em março. Aproveitou o Cineteatro de Chaves, encerrado em 1986, para criar “a maior sala imersiva do país”, segundo o Município de Chaves, “uma das maiores da Europa”, com projeção a 360 graus e no chão, que tira partido da vertente sensorial, recorrendo à sonoplastia, odores e sensações que recriam dinâmicas e fenómenos naturais, como o vento e a humidade. O visitante pode ainda desfrutar de experiências relacionadas com a água, entre as quais sensoriais com sons e cheiros associados, uma instalação suspensa com efeito de gotas de água, uma maqueta dinâmica com vídeo mapping sobre hidrogeologia e geotermia, ou um quiz sobre a utilização sustentável deste recurso. A participação na jornada multissensorial de realidade virtual, aumentada e holográfica, está disponível, de quinta-feira a domingo, entre as 10 e as 17 horas, mediante inscrição. Mínimo de dez participantes e máximo de 60 por visita.
ONDE DORMIR E COMER
PEDRA PURA
É um cinco estrelas de luxo com vistas brutais e uma parte em forma de castelo. Tem rochas em cada uma das suítes, algumas com imenso espaço, madeiras recicladas e banheiras em pedra. Segue a filosofia do “farm to table” e usa ingredientes locais no restaurante.
Rua do Miradouro, 33, Chaves
Tel.: 276 240 950
Web: pedrapuraresort.com
Quarto deluxe desde 250 euros
PENA PARK HOTEL
Quatro estrelas numa zona tranquila, próximo do Pena Aventura Park, com piscinas, jacúzi e sala de jogos Cyberbox. Com horta própria, o chef Vítor Hugo usa produtos locais no restaurante.
Rua do Complexo Turístico de Lamelas, 1, Ribeira de Pena
Tel.: 915 579 190
Web: penaparkhotel.pt
Quarto duplo desde 110 euros
PREMIUM CHAVES
O hotel adota o nome Aquae Flaviae. É quatro estrelas e fica ao lado das Termas de Chaves e do novíssimo Aquae Salutem. Com 165 quartos, tem piscina de água salgada.
Praça do Brasil, Chaves
Telefone: 276 309 000
Web: premiumchaves.com
Quarto duplo desde 50 euros
HOTEL FORTE SÃO FRANCISCO
É um quatro estrelas num antigo convento do século XVII que é Monumento Nacional desde 1938. Fica no centro da cidade, rodeado por muralhas, com piscina e jardins. É possível reservar a antiga cisterna do convento, onde está instalada a garrafeira do hotel, para jantares de grupo.
Rua Terreiro de Cavalaria, Chaves
Telefone: 276 333 700
Web: fortesaofrancisco.com
Quarto duplo desde 70 euros
TABERNA DO TI JOÃO
A verdadeira comida tradicional do Barroso servida em sala com lareira pelo casal Eugénia e João Almeida e confecionada com produtos da região a lembrar a infância. Lema: “A mesa tem de ser lugar de confraternização e partilha”. Arroz de costelinhas castrejo e naco de vitela barrosã são especialidades.
Rua do Lameirão, 1, Boticas
Telefone: 938 272 698
Web: tabernatijoao.pt
Das 19h às 23h, à sexta; das 12h às 15h e das 19h às 23h, ao sábado; das 12h às 16h, ao domingo
Preço médio: 31 euros (entrada, prato e sobremesa)