Há cada vez mais casos de obesidade infantil: quais os sinais de alerta e que tratamentos existem?
Uma em cada três crianças têm excesso de peso e 13,5% sofrem de obesidade. Os últimos dados do COSI, relativos a 2022, marcaram uma inversão na tendência de decréscimo. Saiba o que é a doença, quais os sinais de alerta, como contrariar um aumento deixado pela pandemia e que tratamentos existem.
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O que é a obesidade?
A obesidade é uma doença crónica multifatorial, caracterizada pela acumulação de gordura excessiva no corpo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E constitui um risco acrescido para o desenvolvimento e agravamento de outras doenças crónicas não transmissíveis, como doenças cardiovasculares, a diabetes, alguns tipos de cancro, doenças musculoesqueléticas ou doenças respiratórias.
Atualmente, a obesidade afeta mais de mil milhões de pessoas no mundo, o que significa que uma em cada oito pessoas são obesas, de acordo com a OMS. Desse número, 159 milhões são crianças e jovens.
Em Portugal, os números também não são animadores: em 2022, 37,3% da população adulta tinha excesso de peso e 15,9% era obesa, segundo o INE. Há também cada vez mais crianças com excesso de peso e obesidade: uma em cada três crianças (31,9%) têm excesso de peso e 13,5% sofrem de obesidade infantil, segundo o último estudo Childhood Obesity Surveillance Initiative (COSI) Portugal, relativo a 2022, elaborado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Estes aumentos, que se observaram no pós-pandemia, estão em linha com o resto da Europa.
Quais são as principais causas?
Apesar de estar, genericamente, estar associada ao comportamento alimentar, isto é, a um desequilíbrio provocado por uma ingestão de calorias superior às que são gastas, a obesidade é uma doença mutifatorial. Isto significa que pode resultar de uma combinação de várias causas, como genéticas - que estão associados a 40-85% dos casos -, ambientais, endócrinas (a nível hormonal) e comportamentais.
Note-se que a doença é igualmente grave para adultos e crianças. Porém, uma criança com obesidade pode apresentar consequências negativas mais cedo e prolongar-se durante mais tempo, já em idade adulta. Sendo que têm maior probabilidade de permanecer obesas na vida adulta, sublinha a Direção-Geral da Saúde (DGS).
É importante também sublinhar que as crianças e jovens com excesso de peso ou obesidade são mais suscetíveis de serem vítimas de bullying, que, por sua vez, pode levar a consequências negativas para a saúde mental, como baixa autoestima, ansiedade, depressão, dificuldades em socializar e isolamento social.
Como se pode prevenir?
Geralmente, sim, uma vez que há alguns fatores potencialmente modificáveis, como uma alimentação desadequada, o sedentarismo e a falta de atividade física, dormir pouco ou ter horários de descanso irregulares, o consumo excessivo de comida processada e bebidas ricas em açúcar, e, até mesmo, o tempo excessivo de ecrãs, como a televisão, telemóvel ou 'tablet'.
Além do papel fundamental da escola, a prevenção é, em grande parte, responsabilidade dos pais. Desde logo ao criar e manter uma rotina alimentar saudável desde a infância e estimular a criança a praticar exercício físico. No fundo, deve-se encaminhar os mais novos para a adoção de estilos de vida mais saudáveis desde cedo, porque, afinal, "de pequenino é que se torce o pepino".
Entre as estratégias sugeridas pela DGS está, por exemplo, estabelecer horários regulares para as refeições, fazendo do pequeno-almoço uma refeição obrigatória, consumir sopa no início das refeições principais, guardar os doces e as bebidas açucaradas para os dias especiais e encorajar as crianças a experimentar novos frutas e legumes.
Como é diagnosticada a doença?
Não há uma idade mínima para estar atento ao excesso de peso. As crianças crescem dentro dos padrões das curvas de crescimento e de índice de massa corporal – conhecido como IMC e calculado a partir da relação entre o peso e a estatura - adequadas à idade e ao sexo.
Para se perceber que existe excesso de peso ou obesidade, o IMC é comparado com as referências para crianças com a mesma idade e sexo, utilizando tabelas para raparigas e rapazes. Entre o percentil 85 e 95 é diagnosticado excesso de peso, e acima do percentil 95 trata-se de casos de obesidade infantil.
Quanto mais cedo o diagnóstico, mais rápido podem começar a ser implementados hábitos de alimentação saudáveis, com a ajuda de profissionais de saúde, evitando outros problemas de saúde associados à obesidade. Antes de qualquer dieta ou restrições, é importante consultar o pediatra ou médico de família.
Que tratamento existe para a obesidade infantil?
Mudar o estilo de vida é fundamental para tratar a doença. Entre as crianças mais novas, o tratamento passa pela reeducação alimentar e a prática de exercício físico. Mas, em primeiro lugar, as crianças e jovens devem ser avaliados pelo seu pediatra ou médico de família.
As consultas de especialidade no SNS são dadas em hospitais considerados centros de tratamento de referência, onde as crianças e jovens podem ser seguidos por equipas multidisciplinares. Em alguns casos, pode ser também adotado um tratamento farmacológico, mas apenas para crianças a partir dos 12 anos. Atualmente, nenhum medicamento para o tratamento da obesidade é comparticipado. Dependendo do grau e riscos da obesidade, existem também cirurgias.