
Pelo menos 300 pessoas morreram nos confrontos
Foto: Mohammed Al Rifai / EPA
As forças do Governo sírio foram mobilizadas na terça-feira para Sweida, no sul da Síria, numa clara tentativa do regime de estender a sua autoridade a uma cidade anteriormente controlada por combatentes drusos.
Pelo menos 300 mortos
Pelo menos 300 pessoas morreram nos confrontos ocorridos entre as forças governamentais, beduínos e drusos na cidade de Sweida, no sul da Síria, desde domingo, segundo um novo balanço divulgado esta quarta-feira pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Segundo o OSDH, foram mortos 64 combatentes drusos e 28 civis drusos, "21 destes executados sumariamente" por membros das forças governamentais. Além disso, 138 membros das forças de segurança e 18 combatentes beduínos que entraram em Sweida foram mortos.
Como começou tudo?
Os confrontos eclodiram no domingo entre grupos drusos e tribos beduínas sunitas locais, cujas relações já são tensas há décadas.
As forças governamentais enviaram reforços, afirmando que pretendiam repor a segurança na região de Sweida, onde há uma grande comunidade drusa.
De acordo com testemunhas, grupos drusos e o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), as forças governamentais, apoiadas por outros combatentes, incluindo beduínos, assumiram o controlo de várias cidades controladas pelos drusos nos arredores de Sweida na segunda-feira.
Na terça-feira, após contactos entre as autoridades e responsáveis de Sweida, o Ministério da Defesa sírio declarou um cessar-fogo e anunciou a entrada de tropas na cidade.
Até então, Sweida, com uma população de cerca de 150 mil habitantes, estava sob o controlo de combatentes de várias fações drusas.
Os principais líderes religiosos drusos, em número de três e cujas posições por vezes divergem, tinham apelado aos combatentes que não oferecessem resistência e entregassem as suas armas. Mas um deles, o influente xeque Hikmat al-Hejri, mudou posteriormente de ideias, acusando o Governo de não cumprir a sua promessa de entrar pacificamente em Sweida, pedindo aos combatentes que "enfrentassem a campanha bárbara" das forças de segurança.
Qual o futuro para os grupos drusos?
As novas autoridades sírias, que assumiram o poder após a deposição de Bashar al-Assad em dezembro, exigiram a dissolução de todos os grupos armados e a sua integração nas forças do Ministério da Defesa.
Durante a guerra civil síria (2011-2024), que surgiu da repressão de Al-Assad a uma revolta pacífica, os drusos formaram as suas próprias milícias e tentaram manter o seu bastião de Sweida fora dos combates.
Os dois maiores grupos armados drusos, o Movimento Homens de Dignidade e a Brigada de Montanha, anunciaram em janeiro que estavam prontos para se integrarem nas forças armadas.
No entanto, solicitaram "a formação de uma entidade militar e de segurança composta pelos Filhos de Sweida", que controlaria a cidade sob a égide das autoridades.
"O Estado tem sido lento na aplicação do acordo", disse à France-Presse (AFP) o porta-voz do Movimento Homens de Dignidade, Bassem Fakhr.
Estima-se que os drusos sejam cerca de 700 mil na Síria, ou cerca de 3% da população. Esta comunidade esotérica, descendente de um ramo do Islão, é vista com desconfiança pelo movimento sunita extremista, do qual são originárias as novas autoridades sírias, liderada pelo presidente interino Ahmad al-Charaa.
Por que razão está Israel a intervir?
Os drusos estão espalhados sobretudo entre a Síria, o Líbano e Israel.
Desde a queda de Bashar al-Assad, Israel, através dos líderes desta comunidade que ali vivem, intensificou os seus gestos de abertura aos drusos sírios. Enviou-lhes pacotes de ajuda humanitária e autorizou delegações de dignitários religiosos a viajarem para Israel em peregrinação, apesar do estado de guerra entre os dois países.
Em março, Israel declarou a sua intenção de defender os drusos após escaramuças nos subúrbios de Damasco, mas estas declarações foram imediatamente rejeitadas pelos dignitários drusos, que reafirmaram o seu compromisso com a unidade síria. Desde segunda-feira que aviões israelitas bombardeiam posições sírias na região de Sweida.
"Não permitiremos que os drusos sejam prejudicados na Síria. Israel não ficará de braços cruzados", alertou o ministro da Defesa israelita, Israel Katz.
