"Pôr do sol" é a série da RTP1 que satiriza a ficção com atores a sério. Em duas semanas, cativou as redes sociais sem ganhar nas audiências.
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Uma herdade chamada "Põr do sol" onde as cerejas sem caroço ganham tanta fama que são importadas pela China, para serem brincos de crianças de uma escola secundária. Dois irmãos antagonistas, um perigoso, outro preocupado com um cavalo que se chama Testículo e só anda para trás. Duas gémeas separadas à nascença, sendo que a que foi abandonada é editora de uma revista, nas mãos de uma administradora chamada Cristina e que não tem escrúpulos em pedir resultados. Uma criada que confessa ao padre ter deixado o filho à porta da Casa Pia porque nasceu com duas pilinhas e não ganhava para fraldas. Nada disto faz sentido? É esse o objetivo da série "Pôr do sol", em exibição na RTP1.
A ideia juntou três cabeças: Henrique Dias, guionista, Manuel Pureza, realizador, e Rui Melo, ator. Roberto Pereira, que escreve "Festa é festa", na TVI, foi uma espécie de consultor. Todos conseguiram um produto que está nas bocas das redes sociais e é um êxito, mesmo sem ganhar nas audiências. Êxito porque é uma paródia às novelas onde a falta de sentido existe, mas que faz todo o sentido ao revelar os clichés, os estereótipos e as falhas da ficção.
Os atores são a sério: Diogo Amaral, Marco Delgado, Sofia Sá da Bandeira, Rui Melo, Gabriela Barros , Noémia Costa e Manuel Cavaco entre outros. E o cantor Toy, o homem que canta e dá música às telenovelas, está lá, como voz da banda sonora e como um separador.
Há falas que se tornaram virais, como "o cheiro a IC19", uma banda de garagem que se chama "Jesus Quisto" e que entra em crise quando vai à televisão, traições, segredos e cavalos - muitos cavalos a correr entre cenas.
Sonho realizado
O trio fez um esqueleto com dois episódios e apresentou-os à RTP. Que agarrou a série satírica e preparou-a para o verão. Começou há uma semana e tem 16 episódios, com o mesmo horário das novelas comerciais. "Não queríamos uma palhaçada, mas algo que nos fizesse rir do que vimos e de nós próprios", conta, ao JN, Henrique Dias.
"O princípio era fazer qualquer coisa desafiante que me divertisse e onde pudesse trabalhar com pessoas de quem gosto. Eu, o Rui Melo e o Henrique Dias queríamos cumprir um desejo antigo em que, cada um de nós, guardava secretamente: fazer uma novela nonsense. Qualquer pessoa que tenha trabalhado no mundo nas novelas desejou fazê-lo um dia. Nós só fizemos acontecer", relata Manuel Pureza, realizador de novelas durante dez anos.
E fez este ano uma década depois de "O último a sair", outra série da RTP que satirizava reality shows e que ficou na memória. José Fragoso, diretor de Programas do canal público, não vê paralelismo na temática, mas admite o êxito do projeto. Como espera o deste, se bem que lembre que não entra em guerra de audiências. "Anteontem, com futebol, tivemos cerca de 480 mil espectadores a ver a série. E teremos mais 100 mil a ver gravações e plataformas [RTP Play]", frisa.