A última semana foi marcada pela polémica espoletada pela entrevista que Sofia Arruda deu a Daniel Oliveira no programa "Alta definição", na SIC, na qual contou que foi vítima de assédio sexual num canal televisivo e que acabou por perder trabalho por não ceder.
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"Foi uma aproximação menos profissional da parte de uma pessoa com muito poder dentro de uma estação de televisão, uma produtora. [...] Estive cinco ou seis anos sem trabalhar naquela estação", recordou a atriz. Sofia, de 32 anos, partilhou a história de vida e, mesmo não dizendo nomes, deixou perceber que tudo se passou nos bastidores da TVI, onde depois nada fez entre 2012 e 2017.
Ex-jornalista e agora psicoterapeuta, Bárbara Guevara usou o Instagram para se assumir também "alvo de assédio sexual e abuso de poder (chantagem) sobretudo quando trabalhava em televisão enquanto jornalista, na SIC". E a verdade é que o assunto não é de agora e já antes deu muito que falar. Em Portugal, Cristina Ferreira foi uma das primeiras famosas a apontar os ataques de que foi alvo, perpetrados por um antigo funcionário da TVI, na biografia "Sentir", lançada em 2016. "As flores indicavam uma óbvia tentativa de conquista. As palavras mansas acusavam um objetivo claro: ele queria comer-me", denunciou no livro, lançando então o debate e levando a que outras mulheres mediáticas se juntassem ao coro de acusações.
o que dizem os códigos
Em 2017, a Lei n.º 73/2017, de 16 de agosto, passou a obrigar a que empresas com sete ou mais funcionários criassem um "Código de Conduta", como prevenção e combate ao assédio no trabalho. A sua falta é considerada uma contraordenação grave.
Ao JN, fonte oficial sublinha que "a SIC condena veementemente situações de assédio de qualquer natureza", por isso "no Código de Conduta para a Prevenção do Assédio, é apresentado o procedimento formal para uma denúncia em caso de assédio sexual e/ou moral". Postura semelhante tem a TVI, até porque, refere, "a nova administração da Media Capital é muito rigorosa". Assim, a prioridade "é a revisão/ atualização e renovação do código de ética e conduta que está em fase de elaboração", prevendo "um novo plano de ação consistente e eficaz" contra o assédio. No caso da RTP, o código pode ser consultado no site, onde se lê que não são aceitáveis "quaisquer tipos de discriminação de ordem sexual, racial, religiosa, social ou outra, nem qualquer tipo de assédio", a que se juntam orientações.
Ânimo extra para as mulheres
Consultora na área de recursos humanos, Helena Sequeira lembra que "a gestão de riscos psicossociais já era uma realidade recomendada mas, a partir de 2017, a temática do assédio além de desaconselhável, passou a ser punível".
O sociólogo e professor universitário João Teixeira Lopes não vê as mediáticas denúncias como um fenómeno pontual ou moda, mas já como "um movimento de grande dimensão e muito estrutural". "A denúncia de mulheres de relevo demonstra que o assédio existe em todos os contextos sociais", considerando que "o facto destas mulheres o trazerem à discussão dá às outras um ânimo extra para também denunciarem situações pessoais". Para Teixeira Lopes, o caso de Sofia Arruda "pode funcionar como exemplo, mas tudo isto tem que ter uma implicação mais profunda do que a mera denúncia ou até culpabilização de quem é responsável", reforçando a importância de "medidas de combate efetivo".