Apresentadora passou a última semana no Egito, onde encorajou mais meninas e adolescentes a lutarem pelos seus direitos. Um papel que agarrou há 21 anos e a realiza.
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"Exausta, mas com a sensação de missão cumprida", é assim que Catarina Furtado se reconhece em conversa com o JN após regressar do Egito, onde esteve a convite do Fundo das Nações Unidas para População (UNFPA) para o lançamento da campanha NOURA. "Noura é uma menina egípcia [fictícia] que quer recuperar os direitos negados. Ela representa as adolescentes que casam muito cedo, que não têm acesso ao planeamento familiar", descreve. No âmbito do Gouna Film Festival, e na qualidade de Embaixadora de Boa Vontade do UNFPA, moderou debates e falou com ministros e financiadores.
Consciente das realidades duras que persistem e da dificuldade em alterá-las, ao longo de 21 anos como embaixadora Catarina também nota melhorias que alimentam a esperança. No Egito, ainda foi para o terreno "para estar com as meninas, ouvir as suas histórias" e partilhar o exemplo de quem pôde escolher quando e com quem quis ter filhos. "É importante que alguém de fora lhes diga que é possível." Em zonas rurais e pobres, onde o casamento infantil acontece com mais regularidade e "de forma escondida, tal como a mutilação genital feminina", Catarina Furtado viu como usam "a arte para passar a mensagem" através de projetos da UNFPA. O desporto, a música, a dança, o teatro e o cinema combatem preconceitos e tradições enraizadas que violam os direitos das raparigas. Tal e qual como na Associação com Coroa, que fundou em Portugal.
"Foi avassalador o carinho que recebi. Fui distinguida como uma condecoração", relata Catarina, sem negar que o facto de partilhar a nacionalidade com Cristiano Ronaldo e de ele "ser um herói mundial" acabar por ser uma mais-valia. "Gosto disso e de o valorizar. Muitas vezes, dou o exemplo - mais com os rapazes - de que ele conquistou o que conquistou porque trabalhou para isso, pois também era bastante pobre."
"Nada está garantido"
Há mais de duas décadas ao serviço das Nações Unidas, "com momentos muito duros" pelo meio, Catarina Furtado está sempre atenta, pois "nada está garantido e é importante nunca acabar ou distrair". "Está tão enraizada a superioridade do homem em relação à mulher que, em tempo de crise - e o mundo mudou muito recentemente, com a pandemia - , mais uma vez, é o sexo feminino que fica para trás, penalizando mais as mulheres na área da violência, da saúde e da autonomia", alerta. Para Catarina, mais do que as audiências conquistadas na televisão, a realização passa por sentir que encoraja as meninas com quem se cruza a quererem mudar as suas vidas, e é nessas conquistas que se foca.
A apresentadora vai atrás das causas, mas elas também vêm ao seu encontro, como aconteceu na estreia de mais uma edição de "The voice Portugal", que conduz na RTP ao lado de Vasco Palmeirim. Nas provas cegas esteve Ava Vahneshan, de 22 anos, que veio para cá por não conseguir ter uma carreira no Irão, o país natal. A prova, como salienta, de que o programa pode ser "uma bandeira para a aceitação de todos os seres humanos, independentemente da sua nacionalidade, da orientação sexual, das raças, da cor, promovendo a diversidade e a multiculturalidade".