Herman José acaba de lançar um disco e prepara dois espetáculos no Coliseu de Lisboa.
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Do seu génio criativo saíram pérolas como o "Tal Canal", "Hermanias" ou "Herman enciclopédia". Criou figuras-tipo que entraram no imaginário nacional, de Serafim Saudade a José Esteves, do Diácono Remédios ao mais recente Nélio. Herman José não se cansa de reinventar-se e, para isso, diz que o regresso à estrada foi essencial. Não faz planos a longo prazo e preocupa-se mais com a qualidade do presente. Acaba de lançar um disco e prepara-se para se apresentar, em nome próprio, já a 12 e 13 de abril, no Coliseu de Lisboa.
Há pouco, dei uma vista de olhos no seu Instagram, que se tornou um caso de sucesso. Esta foi uma uma forma de se reinventar?
Comecei a fazer isso para me divertir a mim próprio. E fico sempre muito espantado quando, depois, percebo que há outras pessoas que se divertem também.
Foi também para se divertir que começou a carreira de humorista?
A verdade é que só comecei a ter sucesso com textos que eu escrevia para me rir. Não achava piada aos trocadilhos e à lógica de humor do teatro de revista dos anos 70, em que trabalhei. Um dia pensei, e isso foi muito notório a partir do momento em que participei no "Passeio dos alegres", que deveria escrever os meus próprios textos. Mas escrever humor é a maior chatice que há. É um grande sofrimento. Mas enveredei por aí e o sucesso surgiu. Comecei a vender aquilo em que acreditava.
Tem um programa seu, o "Cá por casa" na RTP1. Este é o formato que mais lhe agrada?
A minha fase televisiva mais chata coincidiu com aquela em que comecei a fazer programas por atacado. Agora, na RTP, tenho a felicidade de fazer um programa para mim. Lá está, com o Instagram é o mesmo conceito. Faço porque me divirto.
Não gostaria de fazer de novo um programa só de humor?
O meu foco passou a ser os espetáculos ao vivo. E fazer espetáculos ao vivo é ir para os sítios, ficar nos sítios. Portanto, resta-me muito pouco tempo para fazer televisão.
O que é que ainda o move a fazer digressões?
É precisamente por causa do regresso à estrada que tive a motivação para lançar o disco "Amanhã faço dieta". É uma súmula da música que uso um bocado como fio condutor do humor. Por outro lado, as digressões é que me devolvem a jovialidade artística. Porque só em contacto com as pessoas é que temos sumo para criar. É um bocado como a diferença que eu sinto entre a Madonna e a Lady Gaga. A primeira, fecha-se numa redoma, não interage com as pessoas. Já a Lady Gaga, onde quer que vá, vive as pessoas e os sítios. Eu já tive a minha fase Madonna, que não renego. Agora adotei a fase Lady Gaga, que é muito mais interessante.
O que tem de diferente este disco, já que inclui canções sobejamente conhecidas?
O disco parte da necessidade que senti de dar um toque de modernidade a músicas cuja sonoridade me soava um bocadinho ultrapassada. Digo na brincadeira que é um disco ótimo para quem se mete nos copos a partir das duas da manhã. É todo dançável.
Já agora, nos espetáculos no Coliseu de Lisboa irá apresentar alguma nova personagem?
Tal como as pequenas impurezas que entram na ostra se vão transformando em perolazinhas, assim acontece com a forma como crio os espetáculos. Começam de pequenos nadas. Nada é material descartável. Vou recuperar uma coisa giríssima, por acaso com sotaque nortenho, que é a história de um senhor que vai a uma discoteca e começa a dançar com uma menina do Leste. Essa história estreei-a no Porto, em 1977.
Um dos seus personagens mais famosos, o José Esteves, tem honras de figurar no Museu do Futebol Clube do Porto. O Herman gosta muito de imitar o sotaque do Porto?
Hoje em dia, já não imito o sotaque porque ele já é meu. Durante muitos anos, trabalhei meses seguidos no Norte, tinha paixões nortenhas, agentes artísticos nortenhos. Portanto, para mim, a lógica do sotaque é uma coisa automática. Não é caricatura.
Como olha para o futuro?
A partir desta idade, não se pensa no futuro, pensa-se na qualidade do presente.
Onde está o rapazinho cujo primeiro emprego foi dar explicações?
Está igual. Na altura, o que me motivava a dar explicações era o desafio de ter algo para resolver. Hoje em dia, é igual. Motiva-me a coisa artística que me desafie.