Jornalista trocou as redacções pela descoberta de Portugal. A pé. Saiu de Sagres em 2008 e já chegou a Chaves.
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Os pastores são as personagens que mais encantam este citadino. Na caminhada apaixonou-se pelo mundo rural
Às vezes até ele duvida. Faz uma espécie de teste rápido de realidade: olha para o mapa (de Portugal), observa a linha em ziguezagues constantes que está quase a atingir o topo da carta e pensa nas pessoas que já conheceu. Sim, aconteceu. Está a acontecer.
Nuno Ferreira, 48 anos, jornalista (ex-"Expresso" e ex- "Público") natural de Aveiro e residente na Caparica, está a percorrer Portugal. A pé. Começou em Fevereiro de 2008, em Sagres, e espera terminar dentro de "três a quatro meses". Pelo meio, já houve várias pausas. Recomeça onde terminou. Como se fosse promessa. A si próprio.
"Às vezes, ao olhar para o mapa, penso: isto ?Portugal? é tão pequeno, de carro faz-se em dias, mas, depois, vendo bem, tem aqui tanta coisa". Inicialmente, o sonho que Nuno Ferreira alimentava há muito era um projecto de trabalho. Hoje, é uma "extravagância". "Comecei a publicar os textos sobre a viagem na revista "Única", do "Expresso", e era suposto ter dentro da própria página do jornal na net um blog com registos diários. Depois, deixou de ser tudo. Fiquei um bocado pendurado". Ou de outra forma, completamente desempregado.
Mas não desistiu. Relata tudo num blog próprio (http://portugalape.blogspot.com). Porque lhe "dá um gozo do caraças". E cabo da carteira. Mas isso é outra história.
Ao longo do longo caminho, já passou por tudo: cigano, peregrino e até passador de droga. A "profissão" de traficante arranjou-lha um homem de Rio de Honor (Bragança). Nuno ficou sentido. "Ouve-se cada coisa!!!". Mas não virou as costas. Explicou-se e ouviu um pedido de desculpas. Adiante. E o que mais o impressionou de tudo que já viu? "A desertificação. Uma coisa é estar a escrever na redacção sobre desertificação outra coisa é vivenciá-la. Procuro os sítios mais remotos, buracos, mas depois fico triste, não há ninguém, mas às vezes, depois, lá aparece uma personagem. Ainda há bocado estive num sítio que até se podia ouvir as moscas".
E o que não esquece? Os pastores. "São personagens espectaculares. Não têm nada para fazer e então estão disponíveis para falar. E não têm medo!". Nas pausas que tem feito, muito por causa da família - sim, Nuno tem mulher, também jornalista, e dois filhos - vai a Lisboa. "Parece que estou noutro planeta. Tornei-me rural", afiança.
Ontem, quando conversou com o JN, Nuno Ferreira estava em Chaves, bem no Norte, perto de Espanha. O caminho que segue vai dar às terras de Barroso.
