Representantes de Portugal na Eurovisão nem sempre somaram proveito à fama. Elvas recebe, este sábado, a final com oito canções.
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"Quero ser tua" (2014), "Tourada"(1973) e "Bem bom" (1982). Qual destas canções fará parte da memória afetiva dos portugueses quando se fala em Festival RTP da Canção? Seguramente as duas últimas, que resistiram à passagem do tempo e das modas. Das canções vencedoras na última década, "Amar pelos dois", o sucesso que em 2017 colocou Salvador Sobral na história da Eurovisão, é a notável exceção num conjunto de canções que se perderam no tempo.
O país acabaria por voltar a cair na realidade no ano seguinte, quando a canção "O jardim", de Cláudia Pascoal, acabou classificada em último lugar. Um balde de água fria, tanto mais que nesse ano a final da Eurovisão foi em Lisboa. A malapata voltou a caracterizar as prestações portuguesas no estrangeiro em 2019. Conan Osíris e "Telemóveis" nem sequer passaram na primeira final da Eurovisão, embora o cantor já tivesse uma carreira antes, que agora continua.
Este sábado, em Elvas, há mais oito artistas a travar a dura batalha para ganhar um lugar permanente no cancioneiro nacional. A final em que será escolhido o novo representante português na Eurovisão, em Roterdão, está marcada para as 21 horas.
Tozé Brito, músico, cantor e compositor com mais de 50 anos de carreira e que participou no concurso por 12 vezes, nota que "o período entre 2000 e 2015 foi quase trágico" para o evento, apesar do concurso se ter mantido "uma rampa de lançamento imediato de novos projetos". A dificuldade está em manter um percurso sólido. "Quem tiver consistência sobrevive", garante.
Mas muitos ficaram pelo caminho. Como Sabrina, que venceu em 2007 e que reside atualmente na Bélgica, só esporadicamente tem dado espetáculos nas comunidades portuguesas. Em 2012, trocou o nome artístico para Maria Teresa e lançou o álbum "Faltam-me as palavras". Por cá, não mais se ouviu falar da sua carreira.
Outro exemplo é o de Suzy , nome artístico de Susana Guerra, que há seis anos venceu com a canção "Quero ser tua". Vive em Espanha, onde trabalha numa empresa que tem uma escola para formar pilotos. Da atividade de cantora, pouco é conhecido.
Também os Flor-de-Lis, que ganharam em 2009 com "Todas as ruas do amor", só gravaram um disco, em 2010.
Mudanças no País
O mentor das Doce lembra que o país mudou profundamente. "Surgiram canais privados de televisão, primeiro a SIC e depois a TVI e a RTP a perder protagonismo. Se a isto juntarmos a crescente importância que o online foi ganhando, mais facilmente se percebem as razões desse desinteresse. As camadas mais jovens não dão importância ao festival".
Nuno Galopim, jornalista, musicólogo e desde 2016 consultor da RTP para o Festival da Canção, reconhece essa mesma decadência. "Sem querer demonizar os que deixaram o formato ativo durante todo esse tempo, a verdade é que se verificou uma grande desertificação dos músicos em relação ao evento".
Liana
Vencedora em 2000 entre blogue e o fado
"Sonhos mágicos". Foi a canção com que, em 2000, Liana venceu o Festival RTP da Canção. "O que o Festival me deu não se mede em reconhecimento. Eu já era bastante conhecida no meio do fado, por ter vencido as duas Grandes Noites do Fado em 94 e 96", disse ao JN. A cantora, que em 2018 lançou o blogue "Plantar amor", não grava um álbum de originais há sete anos. Tem previsto novo lançamento para breve.