Recorde a entrevista que Sara Carreira deu a março de 2019 ao JN. A cantora morreu este sábado, vítima de acidente de viação, aos 21 anos.
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Lançou o primeiro single depois de dois anos a prepará-lo. "Vou ficar" é um trabalho de sua autoria e de Nuno Ribeiro. Revela que se trata de um "tema muito especial". Diz que foi através dele que conseguiu expressar o que sentia e que aproveitou para fazer um trocadilho: "Vim... para ficar". Não pensa ainda em álbuns. Cautelosa, quer ir descobrindo quem é, enquanto artista, com os singles que for lançando. Porém, já pensa no seu primeiro tour, que será para o ano. Eis Sara Carreira, a mais nova do clã de cantores.
"Vou ficar" é uma música que fala de um amor complicado. O amor pode ser complicado para uma mulher com 19 anos?
Sempre fui uma pessoa muito apaixonada por tudo, seja na vida pessoal ou profissional. Apaixono-me muito facilmente, vejo rapidamente a beleza nas coisas ou até nas pessoas que me rodeiam. Acredito que o amor não se baseia unicamente na maturidade, mas, acima da tudo, na intensidade com que se vive cada momento. Considero-me uma pessoa com extremos: se estou apaixonada sinto que é como se fosse para sempre, se estou triste é o fim do mundo [risos]. Acabo por sofrer com mais facilidade.
Está a ter um bom "feedback" dos seus fãs. Valeu a pena estar à espera dois anos para lançar o primeiro single?
Valeu cada minuto de espera. Tenho que admitir que estava muito receosa com este início, pela reação do público, e a única coisa que posso fazer é agradecer por tudo. Foram dois anos muito intensos, a preparar tudo ao detalhe para que estivesse segura do resultado final, mas também para que, através do meu trabalho, conseguissem conhecer-me enquanto pessoa.
Dois anos porquê? É perfeccionista?
Sou bastante, toda a gente à minha volta se queixa disso [risos]. Sou uma pessoa muito desorganizada em casa, mas no trabalho gosto de ter tudo pensado e detalhado, para que através dele tudo pareça simples e como eu: genuíno e verdadeiro.
Disse que os seus pais e irmãos não queriam que fosse cantora. Não conseguiram, está visto. Como é visível o carinho que o irmão David dá à sua carreira. Sente algum peso por ter o apelido Carreira?
Esse peso sinto-o diariamente em cada escolha e cada passo que dê. O apelido Carreira tem o seu lado positivo e negativo. Neste caso, não tenho a oportunidade de ter uma margem de erro: neste início, que ainda é de uma certa forma muito frágil - porque é a altura em que temos que nos descobrir enquanto artista e tentar perceber aquilo que gostamos e o que queremos fazer -, eu acabo por não poder arriscar muito. Mas também daí os dois anos de preparação.
Como é crescer como única filha e ter dois homens como irmãos?
É sempre bom tê-los por perto, porque me protegem. No fim de contas, são três homens [com o pai] a aconselhar-me num ramo que já conhecem muito bem.
O que lhe disse a sua família quando a ouviu cantar pela primeira vez?
Sinceramente, não me lembro, a música sempre fez parte da minha vida. A minha primeira memória ligada a música é quando eu dançava, aos cinco anos, com as bailarinas do meu pai em palco. Tenho medo de falhar e sempre que vejo alguém da minha família orgulhoso de mim, acaba por me tocar muito. Muito.
Fala-se que poderá vir a fazer parte da série da TVI "Morangos com açúcar". Foi sondada?
Toda a gente me pergunta isso [risos]. Não, nunca fui abordada por alguém da TVI. Se um dia surgir a oportunidade, vou pensar nisso e tomar uma decisão que me permita sempre continuar a cantar. O facto de o David ter estado nos "Morangos com açúcar" poderá ajudar-me, porque assim já sei a quem vou pedir conselhos [risos].
Vestiu-se de noiva para um desfile da estilista Micaela Oliveira. Como se sentiu? Quer casar?
A Micaela é uma grande amiga da família de há muitos anos e por isso senti-me muito à vontade e feliz de fazer parte do projeto dela. Quando me vi pela primeira vez foi estranho, porque ainda me sinto muito nova, mas espero um dia casar e ter um vestido de princesa, como aquele que vesti, daqui a uns bons anos.v