
Ator e cantor diz que se sente com 50 anos
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Ator e cantor faz 80 anos nesta quarta-feira, com uma festa em que estará rodeado de amigos e colegas de profissão na sua casa em Monte Estoril. "Recordar é viver" foi o seu maior êxito.
Continua a cantar e a fazer teatro. Gosta de fazer longas caminhadas pela praia e almoça, quase todos os dias, junto ao mar. Praticamente só come peixe e revela uma vitalidade que não se coaduna com a sua idade biológica. Diz-se "um homem livre" por natureza e que isso o faz colecionar inimigos. Mas que "é aí que reside a sua força".
Tem cinco filhos de quatro mães diferentes. Mantém uma união de facto há 34 anos. E fomenta amizades no mundo da música e do teatro. É com eles que, Vítor Espadinha, a voz sussurrante que Portugal conhece da eterna canção romântica "Recordar é viver" (e não só), vai hoje celebrar 80 anos de vida. A festa será bem portuguesa e terá lugar no imenso jardim da sua casa em Monte Estoril.
"Não sou muito de festas, mas como são 80, que é uma idade muito estranha [risos], vou fazer um churrasco com febras e sardinhas para a malta do teatro e da música. Músicos da minha banda e colegas com quem me dou mais e com quem ultimamente tenho feito peças. Toda a gente já confirmou", revela, bem-disposto.
Nascido em 10 de julho de 1939, conta uma vida longa e intensa, mas sente-se um homem novo. "É uma coisa espantosa que não sei a quem agradecer, mas não me sinto com 80, sinto-me, sem exagerar, com 50. Não sei o que se passa comigo. As pessoas dizem que estou a aldrabar quando digo que tenho esta idade", afirma.
Música, teatro, televisão, rádio, cinema, comédia e jornalismo. Já fez de tudo um pouco na vida. O que lhe falta fazer? "Um musical sobre a história do 25 de abril. Em Portugal nunca se fez. As pessoas vão a Londres e veem musicais sobre a história de Inglaterra, em França histórias do próprio país. Cá não se faz nada. Se tivesse dinheiro produzia-o eu", responde.
Começou pela representação, mas foram as canções que lhe mudaram a vida. "A música foi um acidente. Fui à televisão em 1977 como ator, cantei uma canção e apareceram editores a dizer que tinha-mos que fazer um disco. E foi até hoje", recorda.
Gravou mais de 50 músicas, mas "Recordar é viver", mudou tudo. "A partir desse êxito comecei a almoçar e a jantar todos os dias", comenta. E tornou-o um cantor romântico que marcou várias gerações: "O 'Recordar é viver' foi uma coisa incrível. Ainda hoje há pessoas que me dizem: olhe, tenho um filho por causa da sua canção".
A carreira musical e como ator dura até hoje. Vítor Espadinha, diz: "Há gente da minha idade e muito mais nova, que está afastada da vida ativa porque não tem trabalho. Costumo dizer que este país não é para velhos. Eu não ligo a isso. Comigo estão feitos ao bife".
À pergunta sobre o que é que ainda o move aos 80 anos, responde: "A guerra que me fazem dá-me uma força desgraçada. Tenho inimigos nos pontos de decisão em todo o lado, porque prezo a minha liberdade". "Adoro ser um homem livre. Troco um bom cachê por dizer uma coisa que sinto que tenho que dizer. Não consigo resistir. Está no meu ADN, não há nada a fazer e vou colecionando inimigos", adianta.
Conta que, por causa dessa sua forma de estar na vida, José Eduardo Moniz o impede "há 30 anos de entrar na ficção da TVI". E que na origem desta inimizade, está o facto de ter levado Herman José ao seu programa, numa altura em que este "estava proibido de entrar na televisão pelo poder político".
Confessa que o Sporting é o seu clube do coração e que este lhe saiu pela boca quando ofereceu "duas bofetadas" ao antigo diretor Bruno de Carvalho. "Naquele momento enlouqueci. Eu era da direção dele, mas ao fim de dois meses apercebi-me que aquilo era uma máfia insuportável e disse o que muitos quiseram dizer e não tiveram coragem".
"Não me arrependo", declara, referindo: "Conseguimos tirá-lo de lá. Aquilo foi um pesadelo autêntico, mas agora está mais calmo."
Na vida de Vítor Espadinha só há um arrependimento: "Vivia em Londres quando se deu o 25 de abril de 1974. Estava com a minha mulher que era inglesa e duas filhas, e vim para Portugal. Aquilo foi ar puro e liberdade, mas foi o pior passo que dei na vida, porque lá já estava encaminhado na minha profissão. Se tivesse ficado hoje não era o Vítor Espadinha, era o Vítor Little Swords".
