Acusados de sacar 316 mil euros com histórias de crianças doentes.
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Hélder e Cátia Fonseca, de 40 e 36 anos, confessaram quinta-feira, perante o coletivo de juízes do tribunal de Guimarães, ter montado um esquema de angariação de donativos monetários em nome de associações fictícias, com falsas histórias de crianças doentes a necessitar de operações ou tratamento em Cuba.
O casal, que está a ser julgado por crimes de burla qualificada e falsificação, conseguiu cerca de dez mil doações, entre 2010 e 2017, e, segundo a acusação elaborada pelo Ministério Público, ao longo dos anos arrecadou cerca de 316 mil euros. No banco dos réus está também Abílio, um antigo cobrador dos serviços de distribuição de água, que recolhia os donativos.
Hélder e Cátia assumiram a autoria do plano, mas estranharam o valor que a acusação refere como angariado. "Fiquei perplexo com os números", adiantou Hélder. Segundo o casal, o rendimento médio mensal que conseguiam com a atividade rondava os 2500, 3000 euros, sendo que desse valor tinham de pagar aos funcionários e restantes despesas. "Era disto que nós vivíamos", admitiu.
Segundo a arguida, quando criaram a "Associação Glórias Sem Barreiras" o objetivo era fazer "trabalho social", mas "tudo correu mal". Durante pouco mais de um ano ainda mantiveram uma loja social que distribuía cabazes. Os peditórios eram falsos e as associações, seis no total, eram "de fachada". Cátia contou que os nomes das mesmas ("Anjos da Paz" ou "Laço de Crianças", entre outros) foram pensados "com as funcionárias". Contratava operadoras para telefonar, sobretudo idosos, de todo o país a solicitar donativos que Abílio e Hélder recolhiam.
"Numa primeira abordagem havia sempre uma história, mas depois as pessoas já estavam convictas de que era para uma causa social", adiantou a arguida, referindo ter trabalhado em associações no Grande Porto, algumas de fachada. Os contactos foram retirados da lista telefónica e as histórias eram copiadas de casos que viam na televisão ou nos jornais. O esquema durou sete anos, até ser desmantelado pela PSP de Famalicão em maio do ano passado.
O casal disse estar arrependido e pediu desculpa. "A única maneira de terminar com isto era a prisão. Era horrível, tornou-se um novelo", afirmou Cátia, entre lágrimas.