Uma equipa de cientistas descobriu uma cor que nunca ninguém viu antes. A conclusão surge após uma experiência em que investigadores nos EUA dispararam feixes laser nos olhos de cobaias. Ao estimular células individuais na retina, o laser levou a sua perceção para além dos limites naturais, segundo os especialistas.
Corpo do artigo
Os investigadores partilharam uma imagem de um quadrado turquesa para dar uma ideia da cor, a que chamaram "olo", mas sublinharam que o matiz só pode ser percebido através da manipulação a laser da retina.
Cinco pessoas participaram no estudo — quatro homens e uma mulher — todos com visão normal das cores, três dos quais coautores do artigo de investigação. De acordo com o artigo, os participantes usaram um dispositivo chamado Oz, que consiste em espelhos, lasers e dispositivos óticos, concebido por alguns dos investigadores envolvidos e atualizado para ser utilizado neste estudo.
A retina é uma camada de tecido sensível à luz na parte posterior do olho, responsável pela receção e processamento da informação visual. Converte a luz em sinais elétricos, que são depois transmitidos para o cérebro através do nervo ótico, permitindo-nos ver.
A retina inclui células cone, que são células responsáveis pela perceção das cores. Existem três tipos de cones que são sensíveis a comprimentos de onda de luz longos (L), médios (M) e curtos (S). A luz natural é uma mistura de vários comprimentos de onda que estimulam os cones L, M e S em diferentes extensões. As variações são percebidas como cores diferentes. A luz vermelha estimula principalmente os cones L, enquanto a luz azul ativa principalmente os cones S. Mas os cones M estão no meio e não há luz natural que os estimule sozinhos.
De acordo com o artigo, na visão normal, "qualquer luz que estimule uma célula cone M deve também estimular os seus cones L e/ou S vizinhos", porque a sua função se sobrepõe a eles. No entanto, no estudo, o laser estimulou apenas os cones M, "o que, em princípio, enviaria um sinal de cor para o cérebro que nunca ocorre na visão natural", lê-se no artigo. Ou seja, a cor "olo" não poderia ser vista a olho nu no Mundo real sem a ajuda de uma estimulação específica.
O resultado, publicado na revista científica "Science Advances", é uma mancha colorida no campo de visão com cerca de duas vezes o tamanho de uma lua cheia. O nome "olo" vem do binário 010, indicando que, dos cones L, M e S, apenas os cones M estão ligados.
“Não há forma de transmitir esta cor num artigo ou num monitor”, afirma Austin Roorda, cientista de visão da equipa.
O estudo, porém, não convenceu todos. John Barbur, cientista da visão na Universidade de Londres, que não esteve envolvido no estudo, disse que, embora a investigação seja um "feito tecnológico" na estimulação de células cone seletivas, a descoberta de uma nova cor está "aberta à discussão". Explicou que se, por exemplo, as células do cone vermelho (L) fossem estimuladas em grande número, as pessoas "perceberiam um vermelho profundo", mas o brilho percebido pode mudar dependendo das alterações na sensibilidade do cone vermelho, o que não é diferente do que aconteceu neste estudo. “Não é uma cor nova”, disse. “É um verde mais saturado que só pode ser produzido num sujeito com um mecanismo cromático vermelho-verde normal quando a única entrada provém dos cones M”. Para o especialista, o estudo tem “valor limitado”.
Por sua vez, os investigadores acreditam que esta conclusão os ajudará a investigar questões científicas básicas sobre como o cérebro cria perceções visuais do Mundo. Além disso, através da estimulação personalizada das células da retina, os investigadores podem aprender mais sobre o daltonismo ou doenças que afetam a visão, como a retinite pigmentosa.