Cientistas descobriram como as baleias de barbas produzem aqueles sons assombrosos e complexos que durante séculos faziam tremer marinheiros e intrigam os mais audazes de espírito.
Corpo do artigo
O som encantado, aquele lamento assombroso que emerge do mar e que tanto atemorizou e intrigou marinheiros ao longo de séculos, tem sido, também, um mistério sem chave para muitos cientistas ou apenas curiosos de espírito mais temerário. A forma como as baleias de barbas, um grupo de 14 espécies que incluiu a baleia azul, a jubarte ou a cinzenta, produz sons complexos foi decifrada recentemente.
"É super excitante", admitiu Coen Elemans, da Universidade do Sul da Dinamarca, que dirigiu o estudo que encontrou a chave que abriu a caixa de comunicações das baleias desta espécie. A pesquisa, publicada na revista “Nature”, concluiu que estes animais marinhos têm uma anatomia específica que lhes permite emitir sons.
Para descobrir este mecanismo, a equipa liderada por Coen Elemans removeu as laringes de três carcaças de baleias de barbas - jubarte, azul e anã. Os cientistas insuflaram ar nas "caixas vocais" dos animais e perceberam como eram produzidos os sons.
Nos humanos, os sons são produzidos pela passagem do ar nas cordas vocais. As baleias de barbas, em vez disso, têm uma grande estrutura em forma de U com uma almofada de gordura no topo da laringe. Este sistema permite aos animais emitir sons, reciclando ar, e impede a água de entrar no sistema vocal.
"Sempre me interroguei sobre exatamente como as baleias de barbas - especialmente as jubartes, nas quais se centra a minha investigação - produzem aquela variedade de sons”, disse Ellen Garland, da Unidade de Investigação de Mamíferos Marinhos da Universidade de St Andrews, no Reino Unido. “Estudar baleias de grande porte é extremamente difícil, mesmo nos melhores momentos, mas tentar descobrir como produzem o som quando nem sequer as conseguimos ver debaixo de água enquanto vocalizam é um nível de dificuldade acrescido, pelo que estes investigadores foram muito criativos”, acrescentou.
Segundo a "Nature", além de perceber a origem do mistério, a equipa de Coen produziu modelos de computador dos sons recolhidos e concluíram que as baleias de barbas têm uma frequência muito restrita para comunicar, que se mistura com o barulho produzido pelos navios. "Não podem simplesmente escolher, por exemplo, cantar mais alto para evitar o ruído que fazemos no oceano", explicou o autor principal do estudo, que contribuiu par demonstrar como os sons da atividade humana nos oceanos podem prejudicar estes grandes mamíferos.
"O som é absolutamente crucial para a sua sobrevivência, porque é a única forma de se encontrarem uns aos outros para acasalarem no oceano", disse Coen Elemans, em declarações à BBC News. "As baleias são dos animais mais enigmáticos que já viveram no planeta. Estão entre os maiores, são inteligentes e altamente sociais", acrescentou.
"A produção e receção do som é o sentido mais importante para os mamíferos marinhos, pelo que qualquer estudo que elucide a forma como produzem os sons tem o potencial de fazer avançar este campo", observou Kate Stafford, da Universalidade do Estado de Oregon, nos EUA.
O estudo também faz uma retrato da evolução das baleias, desde os tempos imemoriais em que os antepassados das baleias de barbas regressaram aos oceanos – segundo a teoria de que toda a vida na Terra começou no mar - e as adaptações que fizeram para poderem viver e comunicar debaixo de água.
A forma como as baleias de barbas produzem sons era um mistério para a comunidade científica, ao contrário do que acontece com as chamadas baleias dentadas, odontocetos, como as orcas, os golfinhos e os cachalotes, que sopram o ar por uma estrutura que têm nas vias nasais para produzir sons.