Descoberto manuscrito inédito com poema de diplomata português sobre viagens de Colombo
Uma investigadora descobriu o único manuscrito conhecido do poema épico "O Novo Mundo" na Biblioteca da Abadia de Montserrat, em Barcelona, obra do poeta e diplomata português Francisco Botelho de Moraes e Vasconcelos (1670-1747).
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A Universidade de Barcelona (UB) divulgou na terça-feira a descoberta completamente inédita, considerando-a de "grande valor filológico e histórico, pois representa a primeira obra épica escrita em espanhol com Cristóvão Colombo como protagonista".
O documento terá passado despercebido aos investigadores, apesar de surgir como uma breve referência num antigo catálogo compilado pelo padre Alexandre Olivar em 1977.
O manuscrito, com aproximadamente 40 páginas e diferenças assinaláveis em relação à edição impressa de 1701, contém excertos que não constavam do texto conhecido até então, alguns dos quais podem ter sido apagados ou modificados por razões ideológicas.
A descoberta foi realizada pela investigadora de pós-doutoramento Claudia García-Minguillán.
O poema apresenta Colombo como um herói do imaginário político do início do século XVIII e insere-se num período de forte tensão dinástica, pouco antes do início da Guerra da Sucessão de Espanha.
O contexto em que a obra foi escrita - Barcelona em 1701 - é fundamental para compreender a estratégia de Botelho de Moraes e Vasconcelos, figura intimamente ligada à cena intelectual e diplomática da cidade e associada aos círculos austríacos.
O autor participou na fundação da Academia dos Desconfiados, antecessora da atual Real Academia de Letras de Barcelona, e assumiu um claro compromisso literário de ligar as proezas de Colombo aos valores políticos dos apoiantes do arquiduque Carlos de Áustria.
O manuscrito, que será agora objeto de uma edição crítica e de um estudo monográfico, revela também uma intenção estética singular: apesar de escrito em espanhol, a composição segue modelos épicos clássicos mais comuns nas tradições latina e italiana.
A escolha do espanhol, neste caso, responderia a um desejo de intervir no debate cultural e ideológico da monarquia espanhola, defendeu a investigadora.
A descoberta foi possível graças a uma investigação sistemática do acervo da biblioteca monástica e a um cruzamento de referências bibliográficas com materiais manuscritos não catalogados.