As questões éticas associadas ao uso de animais em testes de laboratório levam especialistas a procurar novas alternativas que permitam aumentar a precisão dos estudos sem recorrer a seres vivos.
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A lei aprovada em dezembro do ano passado nos Estados Unidos, pelo executivo de Joe Biden, reconhece limitações aos testes em animais e estimula os cientistas a encontrar alternativas. Neste sentido, a co-fundadora do Centro para as Ciências Contemporâneas, Aysha Akhtar, defende em declarações à revista "Science" que a ciência "vai ficar mais confortável, confiante e experiente com o uso das novas técnicas que podem vir eventualmente a substituir o uso de animais".
Até ao momento, existem cinco técnicas já desenvolvidas: organoides, órgão em chip, tecido humano, fase 0 de ensaio clínico e gémeos digitais. A técnica de organoides é realizada através de células capazes de diferenciar e se organizar espontaneamente em pequenas estuturas 3D, que imitam parcialmente os orgãos". Este método tem sido usado para o estudo de doenças neurodegenerativas, eletrofisologia e a inteligência.
Por outro lado, os chips são usados para recriar a arquitetura e a fisiologia de um órgão. Para isso, os investigadores têm de "capturar vários tipos de células, estruturas e o microambiente do órgão. Esta técnica foi recentemente aprovada pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos para ensaios clinicos em humanos sem pré-testes em animais.
Para realizar esta técnica, há especialistas que retiram tecidos humanos atrávés de cirugias em voluntários, permitindo avaliar intervenções terapêuticas com mais precisão e saber qual o potencial dessa intervenção nos restantes pacientes.
A fase 0 de testes consiste na sub-dosagem de medicamentos a um grupo de pessoas para perceber o "potencial de toxicidade e a eficácia".
Há ainda a criação de gémeos digitais gerados a partir de uma máquina que através dos dos dados clinícos do doente gera modelos preditivos da resposta do paciente a uma intervenção.
Investigador português premiado por inovação
Em Portugal, esta questão também tem preocupado os cientistas que levou já à criação de do centro de investigação 3 R Knowledge Center (3RKC) no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (I3S).
O nome do centro refere o princípio dos 3'rs usado pela ciência desde 1959 que significa: Substituir (replacement), reduzir (reduce)e refinamento (refinement).
O investigador do I3S Daniel Ferreira recebeu o prémio 3Rs Award do National Center for the 3RC pelo desenvolvimento de um estômago-em-chip "inspirado na fisiologia humana, capaz de reproduzir a arquitetura e função parcial da mucosa gástrica humana, bem como a sua natureza dinâmica, mimetizando movimentos peristálticos e fluxo intra-luminal. Estas características, que são essenciais para a função de barreira gástrica, são comummente perdidas num ambiente de cultura celular 2D", explicou o cientista premiado ao portal de notícias da Universidade do Porto.
Na perspetiva de Daniel Ferreira é importante "encontrar alternativas à experimentação animal, que repliquem a fisiologia humana e permitam uma maior taxa de sucesso na transposição de drogas e terapêuticas inovadoras para a clínica”.