Europa corre o risco de se tornar "um cliente dependente de outras potências globais"

A antiga ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato
Foto: Miguel Pereira / Arquivo
Elvira Fortunato, ex-ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, vai ser oradora num encontro internacional, em Nova Iorque, dedicado ao tema "O que resta da soberania tecnológica europeia". Ao JN, a antiga ministra e cientista alertou que a Europa tem vindo a perder liderança tecnológica e que é necessário promover estratégias de promoção do progresso científico e tecnológico no Velho Continente.
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A conferência, organizada pelo Remarque Institute, da Universidade de Nova Iorque (NYU), contará com académicos, decisores políticos e intelectuais de referência dos Estados Unidos e da Europa e propõe debater os desafios da democracia, da informação e das novas formas de poder tecnológico no espaço europeu.
A iniciativa surge num contexto em que as nações europeias perderam competitividade em termos tecnológicos, e em que tem realizado esforços para tentar diagnosticar e desenvolver novas soluções para ter novamente peso nestes setores, de forma a diminuir a dependência do exterior.
Neste sentido, Elvira Fortunato apresentará a comunicação intitulada "O papel da ciência numa época de incerteza geopolítica", onde abordará a importância da ciência e da diplomacia científica, num cenário global marcado por tensões políticas, rivalidades tecnológicas e desafios de soberania.
Em declarações ao Jornal de Notícias, a ex-ministra alertou que a Europa tem vindo a perder liderança tecnológica, o que a coloca em risco de se tornar "um cliente dependente de outras potências globais". Sublinhou, por isso, a urgência de acelerar o investimento e definir áreas prioritárias de desenvolvimento, destacando a saúde, a biotecnologia e a indústria farmacêutica como setores de maior potencial.
Para a ex-ministra, a Europa ainda pode "dar cartas", mas, para isso, precisa de financiamento e decisão política, bem como de um esforço conjunto em estratégias de promoção do progresso científico e tecnológico.
Fortunato defende que a ciência deve ser encarada como uma força unificadora e sem fronteiras, capaz de contribuir para soluções globais, sustentáveis e democráticas. "Trabalhando numa só voz, a ciência pode ajudar a enfrentar os desafios atuais e a promover um mundo mais verde, com menos guerra e mais bem-estar", conclui.
