O especialista em inteligência artificial Srini Kasthoori afirma, em entrevista à Lusa, que a inteligência artificial (IA) está a remodelar o setor da aviação em todas as suas operações e defende literacia da força laboral nesta tecnologia.
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Srini Kasthoori, que é um dos principais especialistas mundiais em IA aplicada aos negócios e é diretor global de soluções multi setoriais da DXC Technology, está em Lisboa até 09 de outubro, no âmbito do World Aviation Festival, onde é orador.
Questionado sobre o impacto da IA, o especialista salienta que a tecnologia "está, fundamentalmente, a remodelar a aviação em termos de experiência do cliente, otimização de receitas, manutenção mais preditiva e em todas as operações". Ou seja, desde a definição de preços dinâmicos até à oferta personalizada, entre outros aspetos, incluindo a gestão.
A IA "está a melhorar tanto a eficiência como a satisfação do cliente", mas a tecnologia não é uma novidade no setor da aviação, diz, até porque já existe há algum tempo.
"Penso que o setor das viagens, em geral, foi pioneiro na adoção da IA, mas, dado os avanços, principalmente após a descoberta dos LLM [grande modelo de linguagem], a adoção está a ser mais rápida porque a tecnologia amadureceu. Portanto, verá agora um impacto mais real da IA, porque, em toda a cadeia de abastecimento, pode tirar partido dela de uma forma que lhe permite compreendê-la, tanto do ponto de vista do crescimento das receitas como da eficiência dos custos", argumenta Srini Kasthoori.
Em geral, a aviação é "um bom setor" - há dados isolados, padrões industriais complexos e fragmentados - para que a IA ajude os clientes.
Reformulação de empregos
Srini Kasthoori usa IA há cerca de 12 anos e diz que o que tem visto "no último ano ou ano e meio" permite que seja "muito otimista", considerando que a tecnologia fará uma grande diferença para os clientes da aviação e para os passageiros. Como qualquer tecnologia, haverá sempre medo ou será um desafio.
"Nós, enquanto espécie genética, temos sido desafiados sempre que existe um novo sistema mecânico ou um novo sistema eletrónico" e as pessoas "perguntam-se sempre o que vai acontecer aos empregos", afirma, quando questionado sobre o assunto.
Kasthoori considera que haverá uma espécie de reformulação dos empregos e do ecossistema.
Em primeiro lugar, "vejo a IA a melhorar a produtividade", pelo que "tornará os empregos existentes melhores", diz.
Neste sentido, os empregos existentes poderão ser desempenhados de forma "muito mais eficiente e rápida" porque terão o nível de informação e acesso obtido pela IA, o que "tornará as vidas melhores".
Isto significa que, "a dada altura", uma empresa possa já não necessitar de um número exato de recursos, mas "penso que o que verá é que, para fazer a IA funcionar, precisa de um novo conjunto de empregos, seja a criar os modelos, a criar os robôs ou a operá-los", prossegue.
Face a isto, assistir-se-á a uma "mudança na forma como realizamos as nossas tarefas talvez para um conjunto diferente de tarefas, mas isso não vai acontecer imediatamente", mas ao longo do tempo, considera.
Kasthoori aconselha as empresas a não adotar IA "apenas por adotar", porque é aí que começa o problema.
"E é muito importante qualificar a nossa força de trabalho, porque quando não se tem conhecimentos em IA, isso só vai causar mais problemas", adverte.
Até porque "não é necessariamente a IA que representa o risco, penso que é apenas a forma como adotamos e implementamos", sublinha.
"Quando olhamos para estas armadilhas e o fazemos de uma forma que minimize o risco para nós e para os nossos clientes, temos de considerar não só o custo, mas também a eficiência global", remata.
Ou seja, as empresas têm de olhar para impacto na eficiência global e não focar-se apenas na redução de custos.