Centro de competências português (Poems) junta 16 entidades nacionais e é liderado pelo Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia.
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O centro de competências português em semicondutores (Poems, no acrónimo em inglês), que arrancou oficialmente esta terça-feira em Braga, é um consórcio que junta 16 entidades nacionais e tem um investimento próximo dos quatro milhões de euros, para reforçar a produção nesta área através do aumento da capacidade de inovação das empresas e da formação de novos profissionais.
Desenvolvido no âmbito do programa europeu Chips Act, desenhado para aumentar a competitividade da Europa no domínio das tecnologias e dos semicondutores, o Poems é financiado em 50% pela Comissão Europeia e outros 50% pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Em Portugal, o projeto é liderado pelo Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), em Braga, onde decorreu a primeira reunião oficial. Integra entidades do sistema científico-tecnológico, universidades e centros de investigação.
Segundo Paula Galvão, da unidade de Negócio e Relações Estratégicas do INL, o “objetivo principal” desta rede é “promover o desenvolvimento da indústria na área dos semicondutores”, que estão cada vez mais presentes no dia a dia, dos computadores à indústria automóvel, das energias renováveis aos equipamentos para a saúde. Esse desenvolvimento assenta, segundo a responsável do INL, na interação dos diferentes parceiros para “potenciar a capacidade de inovação das empresas” e para “captar estudantes para a carreira de semicondutores”.
“Trabalharemos durante quatro anos, e com a ambição de dar continuidade após esse período, para tentar posicionar e diferenciar Portugal a nível internacional em competências-chave relacionadas com a área do design, do packaging, dos sensores, da eletrónica flexível e com a área integrada de chips fotónicos”, precisou.
Paula Galvão sublinhou que o Poems “vai ser muito prático” e “interativo”, permitindo “ir ter com as empresas para apresentar os serviços e o expertise variado e diferenciado que existe no consórcio”. “Queremos capacitá-las e ajudá-las a internacionalizar, a tornarem-se mais inovadoras”, vincou.
Articular competências
Para o presidente do CeNTI – Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes, António Braz Costa, o projeto permitirá “articular competências”, quer em Portugal, quer na Europa, para conhecer de forma aprofundada aquilo que está a ser feito neste domínio e que ações podem ser desenvolvidas para reforçar a produção.
“Não é possível manter um bloco como a União Europeia dependente de blocos exteriores, nomeadamente no contexto de guerra comercial e de outras guerras que estamos a viver. Na Europa e em Portugal temos competências, mas não estão suficientemente articuladas”, defendeu.
Para António Braz Costa, este projeto tem a “grande vantagem” de permitir fazer a articulação entre as várias entidades, desde logo para “apoiar as empresas que já estão no terreno”, mas também “desafiar outras a entrar neste domínio e atrair investimento direto estrangeiro”.
“Estamos a falar de, por um lado, resolver um problema e, por outro, aproveitar esta oportunidade que está muito focada na necessidade, na nossa autonomia estratégica, mas também em olhar para a economia e perceber que esta é uma área que tem um valor acrescentado que nos interessa ter no nosso país”, vincou o presidente do CeNTI.
Falta de profissionais
A formação é uma dos pilares do projeto, tendo em conta a falta de profissionais qualificados nesta área. “A primeira coisa a fazer é conhecer as necessidades de curto prazo das empresas e conseguir também perceber as tendências, para ir formando profissionais mais a médio e longo prazo de forma a atrair novas empresas para Portugal”, explicou ao JN o professor do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) Luís Miguel Pinho.
Nesta vertente, segundo Paula Galvão, o consórcio português vai “tentar desenhar programas universitários, a nível da licenciatura e a nível de mestrado, mais orientados para as necessidades das empresas”. O Poems prevê ainda uma “série de formações para diferentes públicos-alvo”, desde logo nas escolas básicas e secundárias, para “convencer os estudantes a seguirem a carreira dos semicondutores”. “Vamos também dar formação a engenheiros e técnicos de empresas para os capacitar para os desafios futuros”, assegurou Paula Galvão.