Telemóveis nas mãos das crianças podem arruinar noite de Natal, diz especialista
A crescente utilização de dispositivos digitais por parte das crianças pode arruinar a noite de Natal. O alerta é da médica Maria Laureano, pedopsiquiatra na Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra, que aconselha o investimento nos "laços afetivos" nesse dia do ano.
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A especialista considera que, durante a consoada e o dia de Natal, as famílias devem limitar a utilização de telemóveis e tablets a apenas "um período de tempo" em que esta seja aceitável.
"Se os nossos filhos questionarem o porquê dessas regras devemos sentar-nos com eles e explicar-lhes a importância dos afetos e, com analogias simples, fazê-los entender que o importante é poderem brincar e rir juntos, ao invés de se regozijarem pelo número de likes de um post", afirma a especialista.
De facto, a ligação entre os jovens e os dispositivos tecnológicos torna-se cada vez mais inegável. Em fevereiro de 2017, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) publicou um estudo onde concluía que "desde que nascem, as crianças convivem com dispositivos digitais e veem os pais a utilizá-los diariamente" e que tablets e smartphones são usados para acalmá-las ou distraí-las durante as refeições ou "para premiar o bom comportamento ou desempenho escolar."
Segundo o estudo "Crescendo entre ecrãs", realizado com o contributo científico da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 75% das crianças entre os três e os oito anos sabe ligar os dispositivos eletrónicos e 38% acede à Internet, sobretudo através do tablet.
45% das crianças usa telemóvel
"As crianças fazem uso do tablet em dois terços dos lares onde há este dispositivo, com ou sem a tutela dos pais e irmãos mais velhos, e quase todas (em 63% dos lares) tem um pessoal", lê-se no relatório que acrescenta ainda que 45% das crianças usa telemóvel e que 18% até tem um aparelho para uso próprio.
Os números são mais assustadores se tivermos em conta a visualização de programas televisivos: "94% das crianças veem televisão todos os dias, em média 1 hora e 41 minutos (um valor que sobe aos fins de semana)".
Dicas para substituir os telemóveis e tablets
É por isso que, tendo em conta as estatísticas, a pedopsiquiatra Maria Laureano afirma que não pode haver a "expectativa irrealista" de que esses dispositivos sejam completamente deixados de parte, à mesa e à volta da árvore de Natal. O truque está em substituí-los.
As estratégias "passam por envolvê-los (aos miúdos) ativamente nas tarefas de preparação da noite de Natal de uma forma divertida e lúdica, ajudando na preparação das iguarias de Natal ou ficando responsáveis pela ornamentação dos espaços de convívio", exemplifica, acrescentando que "jogos de tabuleiro" e "atuações artísticas" podem ser bons substitutos dos amigos com ecrãs táteis e Internet.
Ecrãs não têm cheiro, paladar, não estimulam as terminações nervosas da pele como um abraço apertado
Até porque, considera, as vivências proporcionadas por um ecrã são "emocionalmente vazias do real contacto com o outro e sensorialmente pobres". "Não têm cheiro, paladar, não estimulam as terminações nervosas da pele como um abraço apertado, por exemplo dos primos quando se encontram", remata, salientando a importância da criação de "memórias" e "histórias biográficas", durante o Natal e outras épocas festivas.