Escrever sobre as Adidas Ultraboost é o mesmo que falar daquele amigo de longa data, com quem já nos chateamos, mas com o qual o valor da amizade vem sempre ao de cima. Já conhecemos o modelo desde a versão 18 e parece que a marca soube ouvir a opinião de quem mais importa, ou seja, de quem corre com elas.
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Da versão 19 até às 22
É verdade que o modelo Ultraboost 22 já tem praticamente um ano de mercado, e que entretanto a Adidas apostou em variações da gama Ultraboost, como a versão “Light”. Isto deve-se à revolução das sapatilhas com placa de carbono. Sobre este assunto, convém esclarecer que estamos a ver sapatilhas que são para treino, e não para prova. Em última análise, a grande maioria das sapatilhas com placa de carbono são otimizadas para performance e para o dia da corrida, para ser aquela milésima parte que ajuda na conquista do tão esperado recorde pessoal.
Um pouco de história pessoal com as Ultraboost
As Ultraboost sempre foram vistas como sapatilhas para aguentar com muitos quilómetros. Em bom português, aguentam “porrada velha”. Lá por casa já passaram quatro versões diferentes, usadas até se desintegrarem. Não andamos com fita métrica a fazer o cálculo, mas chegaram sempre aos 900 quilómetros por par com treinos curtos, longos e uma prova aqui e acolá. É verdade que não estamos na cabeça do pelotão, nem a carteira permite ou nos interessa subir ao patamar da performance, mas sempre foram um modelo consensual entre os corredores com uns quilos a mais até aos que estão no limiar de elite.
A lomba no meio da estrada
A evolução das Ultraboost sempre foi surpreendente. A marca conseguiu melhorar o amortecimento e conforto. Destaque especial para o salto quântico entre a geração 19 e as 20. Provavelmente, as nossas preferidas de sempre. A verdade é que na geração 21, a marca redesenhou completamente as sapatilhas. Na nossa opinião, provavelmente motivada pelo crescimento que o modelo teve como sapatilhas para o dia a dia. Apostaram em muitas versões, cores, edições especiais, e isso fez disparar as vendas. Mas as sapatilhas, concebidas para correr, ficaram mais pesadas e mais rígidas e deixaram de ser vistas nos pés de atletas.
Ao abrir a caixa
As sapatilhas estão diferentes. A flexão da entressola é maior e isso é bom. A malha da parte frontal parece bastante respirável e resistente. Esta era questão problemática até à versão 20, porque o tecido tinha alguma tendência para esfiar. Nunca chegava a comprometer o encaixe do pé, mas esteticamente ficavam desgastadas. Nas 22, parece material feito para durar. O “fit” é ao estilo de meia. O pé fica envolvido pelo acolchoamento depois de as calçarmos. As abas laterais são muito resistentes e capazes de aguentar os sacões mais nervosos dos atacadores. Por baixo, a mítica sola Continental, não fossem as Ultraboost verdadeiros “pneus” para muitos quilómetros. A salientar: dos compostos utilizados na parte superior da sapatilha são obtidos a partir de material reciclável.
A primeira sensação ao calçar é de enorme conforto. O acolchoamento está no ponto ideal. É sempre uma balança difícil de equilibrar, porque mais acolchoamento significa também mais peso. A caixa frontal parece ser um pouco estreita, mas aqui já estamos a entrar pelo domínio do que cada um prefere. No meu caso, como aprecio mais o trail, prefiro sempre sentir o pé mais envolvido nas laterais e frente. Há quem prefira sapatilhas com biqueira mais larga e algumas marcas têm modelos específicos em versão “wide”.
Um mês depois, veredicto
Foi muito bom perceber que a relação com as Ultraboost está no bom caminho. As sensações foram muito boas. Não houve período de habituação (break-in), embora tenhamos usado as sapatilhas durante um dia inteiro antes de ir treinar. Até à data, fizemos perto de 120 quilómetros com elas. Na ficha técnica pesam 341 gramas, o que é muito, mas a verdade é que não sentimos assim tanto o peso quando o conforto é permanente. Continuamos amigos, apesar de tudo. E teremos muitos mais quilómetros pela frente.
Nota: O produto foi cedido pela marca