Bicicletas afinadas ao milímetro para rodar o mais rápido possível no prólogo da Volta
Horas antes de a 86.ª Volta a Portugal ir para a estrada, com um prólogo de 3,4 quilómetros, na Maia, cada uma das bicicletas em prova é analisada ao detalhe, pelos comissários, para garantir que são cumpridas todas as regras definidas. Mecânicos e corredores asseguram que as bicicletas estão ajustadas "ao limite" para proporcionar o máximo de aerodinâmica, num exercício marcado pela corrida contra o tempo.
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Com o relógio a aproximar-se da hora de arranque do prólogo, a azáfama toma conta das tendas instaladas junto ao pórtico da partida, onde está reunida a equipa de comissários. Cruzando os vários idiomas que compõem a caravana, Rita Teixeira avalia os resultados obtidos através do gabarito, aparelho que mede as distâncias através de um laser, enquanto dá orientações aos mecânicos das equipas. Cada uma das bicicletas é passada a pente fino, num exercício de minúcia que serve para garantir a segurança dos corredores.
"Antes de ser dado o apito inicial para a Volta a Portugal fazemos a verificação das bicicletas que vão alinhar no prólogo. Temos um período de cerca de seis minutos para cada uma das 16 equipas, em que os mecânicos podem trazer as bicicletas de contrarrelógio para ser feita uma verificação oficiosa", adianta a comissária n.º2 da prova, explicando que são analisadas as distâncias entre o selim e o eixo da roda pedaleira, entre a roda e o quadro e o avanço do extensor, conforme as normas da União Ciclista Internacional (UCI).
Apesar de o controlo matinal ser "opcional", já que os ciclistas são obrigados a fazer a verificação das bicicletas 15 minutos antes de partirem para a estrada, é uma ajuda preciosa para os mecânicos das equipas, que deverão fazer os ajustes solicitados pelos comissários. Um "jogo" que procura manter o equilíbrio entre aquilo que é permitido e o que é mais benéfico a cada ciclista. "Deixamos sempre tudo no limite. Às vezes pode haver um pequeno conflito e as bicicletas podem passar muito à justa", constata Fernando Costa, segurando a "máquina" - avaliada em 19 mil euros - de Rafael Reis. O mecânico da Anicolor-Tien 21 revela que o contrarrelogista da equipa é, como seria de esperar, o mais exigente com a bicicleta, de forma a cumprir a missão de conquistar os prólogos da Volta a Portugal. "De todos que aqui estão, o Rafael Reis é o mais exigente. Para o Artem Nych, o que o Rafael disser, para ele está tudo bem. O Rafael quer as coisas mesmo no limite", conta.
Num exercício individual onde todos os segundos contam, um centímetro a mais pode fazer toda a diferença. E a correta posição na bicicleta é essencial para conseguir a maior aerodinâmica possível. Quem o garante é António Carvalho, corredor do Feirense-Beeceler, que fez questão de ir à verificação matinal após ter feito o reconhecimento do percurso do prólogo. "Faz muita diferença. Hoje são só 3,4 quilómetros, podemos perder ou ganhar cinco segundos, mas no contrarrelógio final são 17 quilómetros, o que já dá para fazer diferenças muito grandes, onde facilmente se pode perder 20 ou 30 segundos e ditar um lugar ou outro que está em causa", justifica.
Ciente das preocupações e exigências de cada atleta, a comissária Rita Teixeira frisa que o objetivo do controlo das bicicletas é ajudar as equipas, sem nunca descurar a segurança da prova. "Numa corrida como a Volta a Portugal, que tem dois momentos de corrida contra o tempo, as decisões são ao centésimo de segundo. E por isso é normal que quem está aqui para disputar a Volta a Portugal, queira que a sua máquina esteja ao melhor nível para poder alcançar o seu objetivo".