As novas sapatilhas de trail da norte-americana Saucony são leves, seguras e rápidas. Quase perfeitas para todos os terrenos. Quase.
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A diferença destas máquinas de corrida de montanha salta à vista mal se se levanta o papel sulfito que as protege dentro da caixa. São, parecem ser, botas curtas. E são, a nosso ver, atraentes, o que é raro no calçado de trail.
Quase dá pena metê-las na lama. Mas o que tem de ser tem muita força, pelo que vamos embora para os trilhos. E logo a primeira constatação: apesar do aspeto robusto, são leves.
A segunda: não são assim do mais fácil de calçar. Têm efetivamente a forma de um botim sem cano, não têm língua e fecham-se à roda do tornozelo como uma meia. É ótimo para travar areias e pedrinhas, mas é uma chatice para enfiar no pé e nem a presilha traseira parece resolver o caso, porque acaba sempre por dobrar para o interior.
Mas, na verdade, não é nada disso que interessa numa sapatilha de monte. É onde ela nos leva e como.
Diz quem comhece toda a gama de trail da Saucony que a Endorphine Rift reúnem o conforto das Xodus Ultra 2 (isso confirmamos) com a tração e a capacidade técnica das Peregrine 13 e rapidez das Endorphine Edge sem integrar uma placa de carbono como estas.
Dizemos nós que são efetivamente rápidas, que conferem uma passada que não difere das várias Endorphine de estrada (com placa, essas), que nos levam a rolar caminho fora a tal ritmo que nos atiram gloriosa e cartoonescamente ao chão quando se cruzam com uma daquelas pedras marotas bem presas à terra, bem disfarçadas na areia, bem ali postas para nos entrambicarmos nelas.
E descobrimos logo aí duas outras características das Rift, uma fundamental, a outra algo menos, a não ser do ponto de vista financeiro: a biqueira reforçada cumpre religiosamente a sua função (o dedão estava incrivelmente impoluto, ao contrário dos joelhos, das coxas, dos antebraços e das palmas das mãos); e não ficou nem rasto da pancada na sapatilha, atestando a sua resistência, o que não será de menor importância quando temos nos pés uns pneus tão caros como os do carro (sim, 200 euros de pvp, um brinquedo carote).
Entretanto, antes da queda, subíramos por trilhos de areia e brita, por lajes gigantes de granito da Serra da Estrela, por terra mole e seca, por musgos craquejantes de secos, por toda a espécie de coisas, incluindo raízes presas. E nunca as Rift deram parte fraca, nem numa pedra de granito com inclinação de respeito.
Mas não podemos esquecer que este verão que passou foi o mais quente desde que há registo e que a chuva foi uma miragem até há dias.
Voltámos aos trilhos mal o céu se cobriu, para aferir a justeza das alegações da marca.
Ora, escorregámos um nadinha, naquelas situações que ainda nenhuma sapatilha conseguiu vencer: xisto com verdete, escondido no leito seco de um rio coberto por um túnel de vegetação e ativado pela ligeira precipitação daquele dia.
De resto, a lama não foi obstáculo, a terra solta pelas rodas das motas de trial que nos derreiam os trilhos também não (só o trauma da queda do outro dia travou a velocidade pedida pelas Rift, que, diz a marca, se deve à tecnologia Speedroll, que é a forma em barco da sola).
Os pitons de 4,5 milímetros da sola (tecnologia PWRTRAC) ajudam claramente.
A descida, desta vez menos rolante, mais técnica e mais inclinada, desvelou outro ponto negativo das Rift: são algo justas no comprimento. Quem tiver problemas com calçado apertado deve apostar no tamanho acima. Até porque a zona do calcanhar é muito firme (daí parte da dificuldade de calçar), apesar do contraforte acolchoado.
De resto, a forma em botim tipo meia confere um ajuste perfeito ao peito do pé, levantando até a questão da necessidade dos atacadores.
Resta abordar a questão do conforto. De malha superior respirável e sola PWRRUN PB, o amortecimento é garantido sem ser um estorvo, transformando a corrida numa agradável forma de passar o tempo. Tão agradável que apetece sair para a lama, esteja o tempo que estiver.
As Endorphine Rift são sapatilhas neutras, com um drop pequeno (seis milímetros do calcanhar aos dedos) e um peso-pluma (244 gramas no modelo médio masculino, 207 gramas no feminino), feitas em parte com material reciclado.
Nota: o produto foi cedido pela marca.