Nas derradeiras pedaladas, a saudade já aperta no pelotão da Volta a Portugal
A Volta a Portugal já vai longa, e à medida que a corrida avança, cresce no pelotão a vontade de regressar a casa para reaver a família. Enquanto uns fintam a saudade através de chamadas feitas no tempo escasso passado fora da estrada, outros recebem o conforto de quem os acompanha de olhos fechados.
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Há uma década que os pais de Tiago Leal seguem o filho para todo o lado e, este ano, não faltaram a um único dia de corrida: até a Espanha foram para apoiar o atleta da Rádio Popular-Paredes-Boavista. A presença "descansa o coração" de Susana Ferreira e Manuel Leal, que garantem ser a melhor forma de lidar com a vida que o filho escolheu. "Se não viermos, não estamos bem em casa, por isso preferimos vir. Ser pai de um ciclista é muito difícil", atalha o pai, com a concordância da mãe, que "sofre muito" não só pelo filho, como pelo resto dos companheiros.
Com tantos anos de estrada, conhecem quase todos os atletas, num pelotão que já se tornou família, da qual faz parte também Cristina Mota. Assídua na caravana e com um orgulho imensurável no filho, a mãe de Francisco Pereira acompanha cada "bater de asas" com um sorriso de quem vê o jovem da Feirense-Beeceler a "fazer aquilo que quer". Sempre apoiou o sonho do filho em ser ciclista e, apesar de estremecer sempre que o telefone toca, faria tudo outra vez. "Estou proibida de dizer 'cuidado'. Uma vez disse-lhe e ele pediu-me para não o voltar a fazer. Portanto, digo-lhe 'vamos, filho' e 'força, filho', e também lhe digo que o amo muito", confidencia Cristina, de olhar carinhoso, a pensar no "seu" Francisco.
Chamadas com os filhos
Quem não tira o seu rebento do pensamento é Rafael Reis, que além do filho Lourenço, de dois anos e meio, foi presenteado com Isaac, há dois meses. Lidar com as saudades dos pequenos "não é fácil", uma vez que além dos 12 dias passados na Volta a Portugal, o corredor da Anicolor-Tien 21 acumula ainda outras provas e o tempo do estágio de preparação para a prova-rainha. "Agora com as novas tecnologias, também dá para ir acompanhando dia a dia, é difícil, mas tem que ser assim", explica o setubalense de 33 anos, que aproveita o tempo antes e depois das etapas para ver os filhos através do ecrã.
Depois de vários dias sem ver a pequena Luísa, que faz nove meses no domingo, no último dia da Volta, César Martingil pôde matar saudades nesta sexta-feira, na chegada a Santarém. Com a data de nascimento da filha tatuada no braço, o corredor da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua confessa que apesar de preparar a Volta durante toda a época, está ansioso por regressar a casa. "Esta corrida é especial, mas este ano, mais do que nunca, já queria ter acabado a Volta".