Quando a tecnologia é "primitiva" com as Merrell Trail Glove 7

Assustador? Não necessariamente

Segundo vários podologistas, as marcas é que criaram o conceito de “drop”. O ser humano já corria há séculos sem espuma ou placa de carbono sob os pés. Não estamos a afirmar que este é o caminho, mas nada como experimentar para validar teses e ter a nossa opinião.

Chegaram-nos as Merrell Trail Glove 7, um modelo destinado aos trilhos. A ideia é um pouco assustadora. Imaginamos as pedras bicudas, as travessias de rio, as zonas de mato mais altas em que não sabemos ao certo o que estamos a pisar. Optamos por fazer um período probatório de uma semana a usar as sapatilhas diariamente para reeducar a forma de caminhar e perceber até que ponto é assim tão natural.

Ao abrir a caixa

Um esquema de cores clássico da Merrell. Quem não se lembra de quando a marca apareceu no mercado português com calçado orientado sobretudo para trekking com as sapatilhas castanhas e a bola laranja. As Glove 7, modelo Fungi, são como uma espécie de camuflado florestal. Nós gostamos, até porque são discretas, o que é uma raridade nos modelos de trail.

Ao calçar

O conforto das Trail Glove 7 é imediato, correspondem ao tamanho anunciado pela marca, a língua é bastante almofadada e a tensão dos atacadores não atrapalha minimamente.

Ao colocar de pé, sentimos uma sensação estranha ao início. Um ligeiro desconforto nas costas, quase como se não soubesse a postura correta. Forçamo-nos e a verdade é que essa sensação desapareceu logo no dia a seguir. Usámo-las ao longo de dois dias de trabalho em que estivemos praticamente sempre de pé e não houve cansaço extra ou músculos doridos. Pelo contrário, o conforto no caminhar foi muito evidente. Inicialmente, pensamos muito na ausência de suporte no arco do pé, mas milhares de anos de anatomia e memória muscular falam mais alto. O pé sabe trabalhar perfeitamente sem deformação externa com a modelação do pé e da biomecânica através de sapatilhas de treino convencionais. 

O primeito teste, em estrada

Passada uma semana de uso casual, ousámos dois treinos curtos de 5 e 8 km em estrada, um em ritmo lento, o segundo mais acelarado, para perceber a resposta anatómica às Trail Glove 7.

No primeiro treino, houve alguns momentos em que sentimos a dureza do terreno no pé. Não foi uma sensação prolongada, mas aconteceu cinco vezes em 30 minutos. A sensação foi boa e até divertida. Foi como começar a correr pela primeira vez, mas já com algum treino em cima, pelo que foi só prazeroso.

O segundo treino correu na perfeição, com destaque para as mudanças de direção, em que a sola agarrou na perfeição o asfalto. Um dado curioso, que percebemos depois do treino, foi a ligeira redução da cadência de passada . Não surpreende: a relação ação-reação entre a sapatilha e o pé é completamente diferente.

Por fim, o monte

Com a confiança necessária, levámos as Trail Glove 7 ao laboratório que as merece. Corremos por trilhos sem complexidade técnica. As passagens críticas eram com pedras bastantes grandes e de fácil apoio. A reação foi ótima e a proximidade do pé ao terreno foi como encontrar uma novidade em algo que já gostamos de fazer. A sola Vibram está lá, com tacos muito leves que na hora certa agarram bem terra e pedra. 

As dores finais eram as dores clássicas de um atleta amador que não treina o suficiente para aquilo que se propõe fazer, mas os pés e toda a musculatura em volta pareciam bem. 

Resumo

Usar calçado barefoot parece ser uma ótima forma de tomarmos consciência da saúde da nossa postura enquanto bípedes. E, segundo alguns estudos, um uso a longo prazo pode ajudar na prevenção de maleitas que vêm com a corrida, como problemas lombares, articulações, canelites, etc. Mas isso não conseguimos ainda atestar. Para lá da ciência, as Merrell Trail Glove 7 parecem ser um modelo interessante para quem quer combinar a paixão pela caminhada com uma introdução ao trail, sem ter de investir em mais calçado. 

Preço: 109€

Nota: O produto foi cedido pela marca