Evento em 1 de novembro no Algarve convida mulheres a arrancar e, correndo ou caminhando, avançar aos seu próprio ritmo ao longo de 48 quilómetros, em nome da luta contra o cancro feminino.
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É a ideia de um homem mas dirige-se só a mulheres, para que se sintam incluídas e apoiadas. Huw Williams padece de um cancro neuroendócrino em estádio 4, incurável, que lhe abriu horizontes: hoje vê o tempo e os objetivos de forma totalmente diferente e constatou que o cancro é um mal que toca todas as famílias - todas as mulheres, na doença, no papel de cuidadoras e, sobretudo, na prevenção.
Corredor, decidiu por isso oferecer-lhes um lugar onde se pudessem juntar, sentirem-se parte de algo grande e apoiadas. Ultramaratonista (já concluiu a Maratona das Areias, no Saara), criou uma evento de trail à medida. E chamou-o de SheUltra. Chega agora a Portugal.
O conceito é simples: há uma linha de partida, uma linha de chegada 48 quilómetros depois e nenhuma pressão nem limite de tempo ou de velocidade. É para caminhar ao ritmo que for caso, nem que seja o de corrida. E a meta é uma festa de convívio e a oportunidade de entregar os fundos acumulados à causa. Já a medalha, essa, é entregue à partida.
Medalha à partida
"A medalha é dada na linha de partida, em homenagem às mulheres que perdemos e àquelas que continuam a lutar", diz o Huw, lançando um apelo: "Não esperem até se sentirem prontas - nenhum de nós se sente verdadeira pronto. Digam sim, dêem o primeiro passo e deixem a comunidade carregá-las para a frente. Vão descobrir forças que não sabiam que tinham". Demasiadas vezes, acredita o atleta, "as mulheres colocam alguém em primeiro - filhos, companheiros, trabalho, família - e esquecem a sua própria saúde e felicidade".
Para tornar tudo possível, haverá estações de apoio lideradas por mulheres, onde até kits higiénicos são disponibilizados (como é que ninguém se lembrou disto antes?), haverá mais blocos santiários do que o habitual, haverá só mulheres no trilho e nas equipas de suporte, incluindo a equipa médica, e haverá "embaixadoras a correr ou a caminhar com participantes individuais para que nunca ninguém se sinta só".
"Quis remover todos os obstáculos que pudessem impedir uma mulher de participar", explica Huw, segundo o qual o evento pretende provar que as mulheres podem conseguir feitos extraordinários quando se juntam. " O lugar de cada mulher é válido. As barreiras de tempo excluem. O SheUltra inclui. Retirar o relógio envia uma mensagem muito clara: este evento pertence-vos e é uma vitória, seja qual for a forma como o percorrerem. Por isso não há limites de tempo - apenas sorrisos, encorajamento e tudo desenhado para ajudar as mulheres não só a chegar à linha de meta, como, mais importante do que isso, a sentirem-se seguras e apoiadas o suficiente para chegar à linha de partida".
"Não é competição"
"O SheUltra não é sobre competição - é sobre conexão, saúde e coragem. Queremos que cada mulher termine a prova a pensar: se consegui fazer isto, consigo fazer qualquer coisa", resume Huw, que espera mobilizar as mulheres a cuidar da sua saúde, a aprender a inspecionar os peitos, a detetar alguma anormalidade e agir cedo. A colocar-se à frente. No final, trata-se de trazer a conversa sobre o cancro para a luz.
O evento está marcado para o dia 1 de novmebro, com partida na Praia da Falésia e chegada ao AP Victoria Sports & Beach Hotel, e contará com a presença da atleta olímpica e campeã mundial escocesa Liz McColgan.
Parte das inscrições e de doações que a organização recebe reverte a favor da equipa de oncologia de Faro e serão doados dois manequins para exames mamários, que permitem que as enfermeiras treinem e demonstrem como verificar sinais de cancro.
O primeiro evento SheUltra decorreu em 2024 no País de Gales, onde Huw nasceu, e já teve segunda edição. Internacionalizou-se em Itália e chega agora a Portugal. Pelo caminho, angariou já mais de 92 mil euros para instituições de apoio ao cancro feminino.