Vindos de longe ou do sopé da montanha, na serra "cabe tudo" para celebrar o ciclismo
Um pastor que guarda uma centena de ovelhas, um grupo de amigos que veio da Batalha vestido a rigor ou covilhanenses que honram a tradição. Na Serra da Estrela "cabe tudo" para assistir à etapa rainha da Volta a Portugal. Mesmo em dia de semana, centenas de adeptos subiram ao alto para ver o esforço árduo dos corredores e participar na "festa do ciclismo".
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"Vim a primeira vez e fiquei apaixonada. Agora, é todo o ano", garante Cátia Costa, que há quatro anos trocou o Rio de Janeiro pela Covilhã, e aprendeu com o marido, Fernando, a admirar o espetáculo da modalidade. Fica "louca" quando vê passar os corredores, grita-lhes palavras de apoio e interage com eles. "Acho que é importante para eles essa energia que a gente troca, sentir a vibração das pessoas", considera a carioca de 50 anos, que estacionou a caravana num ponto estratégico e ergue as bandeiras de Portugal e do Brasil para saudar a passagem dos ciclistas.
Uns bons metros acima, a família de Pedro Ferraz acena a quem passa a pé, de bicicleta ou de carro. Faz parte da cultura dos amantes de ciclismo partilhar um bom dia ou um sorriso. "O ciclismo é sempre uma festa do público. Esta é a etapa rainha: se é difícil para os automóveis subir esta serra, imagine para eles subir da Covilhã até à Torre", aponta. Há décadas que o homem, natural da Covilhã, não perde uma chegada do pelotão à "sua serra". E nunca deixa de se impressionar com o empenho aguerrido dos ciclistas.
Serra acima, o grupo de Rui Pragosa não passar despercebido. Numa mesa instalada à sombra, apetrechada com frango assado, petiscos e cerveja fresca, adultos e crianças fazem a festa. Munidos de adereços que trouxeram da Volta a França, desde bonés, camisolas e até placas de identificação, são a representação do verdadeiro convívio do ciclismo. Aproveitaram o feriado da Batalha para ver a Volta a Portugal, pela primeira vez, na Serra da Estrela. "Quando é numa subida, conseguimos vê-los mais espaçados, ou seja, o divertimento prolonga-se por muito mais tempo", justifica Rui Pragosa.
De longe também veio Tiago Pinto, com o pai, para adicionar bidões à sua coleção. "Só esta Volta, já consegui 71", atira orgulhoso o menino de dez anos, que se vestiu de palhaço para chamar a atenção dos corredores. Na imensidão da serra há lugar para todos, sobretudo no dia em que a caravana passa. No meio da agitação, Ramiro Menino conserva a tranquilidade montanhosa no olhar, que divide entre o prado e a estrada. "Daqui vejo passar os ciclistas e guardo o rebanho à distância", explica o pastor de 67 anos. "A serra é bonita é fora da estrada", desafia Ramiro, garantindo que ali, "cabem todos".