JNTAG - As erupções que acontecem no Sol podem interferir com satélites e redes elétricas, afetar sinais de rádio e o GPS. Pois é, o que se passa lá em cima, por vezes, chega cá abaixo de forma surpreendente.
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O sol e seus humores
O Sol, estrela central do sistema solar, tem os seus momentos e as suas tempestades. Uma tempestade solar, também chamada tempestade geomagnética, é uma perturbação temporária, que acontece de vez em quando, causada por uma onda de choque do vento solar que interage com o campo magnético da Terra. Ou seja, o que acontece lá em cima é uma ejeção de massa solar que chega à camada terrestre. Essa massa, conhecida como massa coronal, é constituída por projéteis solares que são partículas de gás que podem atingir uma velocidade de 3200 quilómetros por segundo. Resumindo: um pico de um ciclo solar é terreno fértil para a variação eletromagnética e de densidade em certas regiões do Sol, provocando as tais tempestades. Quase como um filme de ficção científica.
O que pode acontecer?
Várias coisas. As comunicações, sobretudo as que dependem de satélites instalados lá no alto, podem falhar devido precisamente às perturbações no campo magnético e na ionosfera causadas pelas tais tempestades.
Há várias situações que podem acontecer, uma delas é a interferência em sinais de rádio, isto é, as ondas de rádio podem ser distorcidas ou ficar bloqueadas, e a comunicação é interrompida. Os sinais de precisão GPS também podem ficar afetados e, se isso acontecer, há problemas em sistemas de navegação e localização. As tempestades solares podem ainda interromper o acesso à Internet, caso danifiquem cabos de fibra ótica e outras infraestruturas de rede – todavia, o desaparecimento total e permanente da net não é nada provável.
Os satélites também podem sofrer danos. A radiação solar intensa danifica componentes eletrónicos dos satélites e seus painéis, causando falhas ou interrupções nos serviços de comunicação por satélite.
As tempestades solares são, de facto, uma ameaça para comunicações e outros sistemas tecnológicos que dependam de satélites e redes de rádio. De qualquer forma, não há indicações e provas de que o apagão recente, de 28 de abril, tenha resultado de uma tempestade solar. Continua-se à procura de explicações.
O evento Carrington
Em 1859, Richard Carrington, astrónomo inglês, observou um fenómeno intrigante, uma erupção solar tão exuberante, uma tempestade solar geomagnética tão poderosa que provocou falhas em estações de telégrafos em diversos países (no século XIX, os telégrafos eram uma forma de comunicar). A ejeção de massa do Sol desceu à Terra, nessa tempestade solar potente, e Carrington observou que havia auroras boreais em regiões pouco habituais, mais baixas do que era comum. E nada ficaria como dantes. A partir daí, dedicou-se toda a atenção para essas explosões solares e como afetavam tecnologias e comunicações.
Sonda espacial
Neste momento, a agência aeroespacial NASA, nos Estados Unidos, é uma das entidades que monitorizam a atividade solar e lançam alertas para possíveis tempestades solares. Em 2018, a NASA lançou a Parker Solar Probe, a primeira sonda espacial capaz de “tocar” no Sol para explorar a camada externa da sua atmosfera, mais quente do que a superfície, essa superfície de onde saem partículas energéticas, como eletrões e protões, que podem afetar satélites e comunicações.
14 de julho de 2000
Esse dia, nesse ano, ficou conhecido como “incidente do Dia da Bastilha”, por ser a data do feriado nacional em França. O que se passou? Uma tempestade solar causou perturbações em satélites e sistemas de comunicação em todo o Mundo. Pelos impactos, há empresas e governos interessados em implementar medidas para proteger satélites e redes elétricas.
Mais auroras boreais
Há os riscos e consequências tecnológicas, são factos, mas há uma beleza natural que as tempestades solares conseguem criar. Ou seja, auroras boreais mais baixas e, por isso, mais visíveis aos olhos com os seus belos espetáculos de luzes nos céus das regiões polares. Uma boa oportunidade para os “caçadores de auroras”.