Tecnologia avançada e versátil entrou na cozinha para criar alimentos personalizados. Sushi 3D, bifes à base de proteínas de plantas, carne vegan, são algumas “invenções” culinárias.
Corpo do artigo
A maquinaria e seus engenhos
Primeiro, convém saber a teoria. Uma impressora 3D de alimentos é um dispositivo que usa tecnologia de impressão tridimensional para criar alimentos personalizados, a partir de um modelo numérico com as coordenadas x, y e z. Depois, é necessário perceber a prática.
Seleciona-se ou projeta-se o prato num ecrã tátil, enchem-se os recipientes da máquina com os ingredientes colocados camada a camada (leia-se, camadas finas de ingredientes umas sobre as outras) até “construir” uma peça culinária em três dimensões, a partir de um modelo digital pré-definido.
A “tinta” é feita com base numa pasta que junta vários ingredientes. E as impressoras reproduzem o padrão do prato desejado. Há máquinas que têm um laser ultravioleta que solidifica alimentos. Há todo um novo mundo de possibilidades culinárias para explorar.
Quatro passos
1. Criar.
O design do alimento é definido num software de modelagem 3D.
2. Preparar.
Os ingredientes comestíveis, ou seja, a base do prato, como farinhas, açúcares, gorduras, líquidos, são preparados e inseridos na impressora.
3. Imprimir.
De acordo com o modelo digital, a impressora deposita as camadas de ingredientes.
4. Terminar.
A peça pode ser assada ou cozida, antes de ser consumida. Ou então pode ser comida diretamente, como pratos frios, entradas, e sobremesas com esculturas de chocolate ou de açúcar.
Ingredientes e requisitos
Nem todos os alimentos podem “nascer” numa impressora 3D. A tecnologia é avançada, mas há regras e limites. Os ingredientes têm de obedecer a três requisitos principais.
Capacidade de impressão, ou seja, é necessário que tenham propriedades, nomeadamente químicas, para serem controlados, depositados e consigam manter a sua forma – a humidade, por exemplo, é um fator crítico.
Aplicabilidade, isto é, a capacidade em cumprir certas funções, tal como a incorporação de um valor nutricional específico em alimentos exclusivos, tendo em conta as necessidades de alguém ou de uma população.
A terceira condição é o comportamento dos ingredientes após a impressão, uma vez que muitos alimentos impressos precisam de ser cozidos ou assados antes de serem postos na mesa. O pós-processamento é sempre uma parte vital para o sucesso do que sai da impressora.
A ética, a textura e o sabor
Há questões éticas em cima da mesa. As condições em que muitos animais vivem e forma como são abatidos, o excesso de poluição e os elevados gastos de água em explorações agropecuárias, a ganância do mercado e os preços ao consumidor. Tudo isso potencia a procura por fontes alternativas à proteína animal. E é aqui que a impressão 3D entra em campo como estratégia de produção alimentar, como fabricante de alimentos personalizados em textura, sabor e teor nutricional. O que significa que é possível criar um alimento de acordo com as necessidades nutricionais de cada pessoa. O que significa uma dieta mais direcionada, controlada, saudável.
Menos desperdício, dietas ao detalhe
Criar alimentos à medida, reduzir o desperdício ao utilizar os ingredientes de forma eficiente, dar resposta a necessidades dietéticas específicas, abrir novas portas à culinária e massificar designs complexos na cozinha são as principais virtudes desta tecnologia.
Uma impressora de alimentos pode ajudar quem tem dificuldade em mastigar, nomeadamente por razões de saúde, ao criar comida mais fácil de ingerir e com características sensoriais semelhantes à comida “normal”. Para a NASA, e as suas missões ao Espaço, é possível criar refeições para os astronautas.
Possibilidades não faltam: imprimir carne vegetal com textura e fibra semelhante à carne “real”, como bifes à base de proteínas de plantas, filé de porco vegan, carne vegan feita com proteínas de ervilha e arroz, azeite, extrato de alga marinha e sumo de beterraba. Ou ainda alimentos criados a partir de células animais, como bife do lombo e sashimi de salmão.