JNTAG - Rusgas sem-fim, protestos nas ruas, milhares de militares chamados a intervir. Donald Trump quer expulsar milhões de estrangeiros do país e os confrontos sucedem-se.
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Já te devem ter chegado relatos dos confrontos em Los Angeles, que, entretanto, se alargaram a outras cidades americanas. Comecemos por aí: porquê? Ora, a vaga de protestos começou na sequência das muitas rusgas que o serviço de emigração e fronteiras dos EUA tem levado a cabo, para detetar e expulsar imigrantes legais. Indignados, os cidadãos saíram à rua em protesto. Donald Trump, o presidente americano, reagiu com punho de ferro, enviando milhares de militares para a cidade. Os ânimos exaltaram-se ainda mais.
Os planos
Mas afinal, por que razão Trump insiste nas deportações? A questão dos imigrantes é um cavalo de batalha importante para o presidente americano. Logo durante a campanha para as eleições presidenciais, o então candidato republicano assegurou que ia expulsar milhões de imigrantes sem documentos, prometendo a “maior campanha de deportações da história dos EUA”. Disse mesmo que, se necessário, usaria a Guarda Nacional e o Exército para avançar com as deportações em massa.
Os argumentos
E agora perguntas tu: porquê? Ora, o que Trump gosta de gritar aos sete ventos é que os imigrantes são uma ameaça à segurança dos EUA, havendo o risco de entrada de terroristas, membros de gangues e traficantes de drogas, por exemplo. Aponta ainda a imigração como uma das causas da crise de fentanil, uma droga potente que tem causado dezenas de milhares de mortes nos EUA. Depois, há todos os outros argumentos anti-imigração recorrentemente invocados pelas correntes extremistas e populistas: que os imigrantes ocupam empregos que poderiam ser para os cidadãos nacionais, que sobrecarregam os sistemas públicos de saúde, educação e assistência social, que põem em risco a identidade americana tradicional, etc. No fundo, Trump (e não só) tenta agitar os fantasmas do medo e do ressentimento económico para beneficiar politicamente. E esta retórica anti-imigração contribuiu para que fosse reeleito.
A realidade
Na prática, os argumentos usados por Trump são facilmente anulados pela realidade: por exemplo, há vários estudos a mostrar que os imigrantes (legais ou ilegais) cometem crimes em taxas menores ou iguais às dos cidadãos nativos; o fentanil é maioritariamente transportado por cidadãos americanos; os casos de terrorismo nos EUA ligados a imigrantes são extremamente raros. A nível económico, a realidade também é bem distinta da narrativa que o presidente americano quer vender. Na verdade, os imigrantes compensam a falta de mão de obra crítica em áreas como a agricultura, a construção ou os cuidados pessoais. A maioria dos economistas concorda até que há um impacto positivo na economia a longo prazo.
11 milhões
E afinal, porque é que há tantos imigrantes indocumentados nos EUA? Estima-se que sejam perto de 11 milhões de pessoas. Em grande medida, porque o país tem um sistema legal de imigração limitado e desatualizado, que faz com que milhões de pessoas que gostariam de entrar no país de forma legal, para trabalhar e ter uma vida melhor, de forma honesta, simplesmente não tenham forma de se legalizar. Para muitos, a única solução é entrar sem autorização.
Há mesmo quem chegue a viver dezenas de anos no país, fazendo todos os descontos devidos, mas sem nunca se conseguir legalizar. Acresce que, como já falámos, há vários setores que precisam dos imigrantes e os incentivam a ir para o país. Mas depois não têm proteção legal. É um contrassenso, não é? A questão é que o país também beneficia desta “economia paralela”. O que talvez ajude a explicar o facto de o sistema não ser atualizado há décadas.