
O advogado Ernesto Salgado a sair do Tribunal de Braga, onde está a ser julgado
Joaquim Gomes/JN
O advogado Ernesto Salgado, conhecido por defender um padre e três freiras de Famalicão acusados de crimes de escravidão, com audiências ainda a decorrer, no Tribunal de Guimarães, está ele próprio a ser julgado, mas em Braga, sob a acusação de falsificar uma procuração e levantar cem mil euros da conta bancária de um idoso de Santo Tirso. Imputações que refutou sempre no julgamento.
Ernesto Salgado é acusado de, enquanto advogado, ter conhecimento das fragilidades de Joaquim Carneiro de Oliveira, de Santo Tirso, devido à sua avançada idade. Um sobrinho do idoso, cliente do causídico famalicense, apresentara-lhe uma procuração do tio, no ano de 2009, para uma doação familiar. A partir de tal documento, diz a acusação do Ministério Público (MP), Ernesto Salgado "fabricou" uma nova procuração, em 2010, em que falsamente o ancião autorizava um terceiro a movimentar a sua conta na Caixa Geral de Depósitos. O procurador ali nomeado era o empresário Luís Pinheiro Sá Couto Reis. Como este viria a fugir para Espanha, Ernesto Salgado é o único arguido que está ser julgado.
Em 20 de julho de 2010, Ernesto Salgado e Luís Reis, pessoas que não eram conhecidas do idoso, falecido em 2017, deslocaram-se a Braga e com o documento, que se provou pericialmente ser forjado, levantaram o dinheiro existente, 100 mil euros, através de um cheque, que viriam a depositar na conta de uma imobiliária "controlada" pelo advogado. A seguir, o agora arguido levantou o dinheiro ao balcão na agência, acusa ainda o MP.
Ernesto Carlos da Costa Salgado, de 47 anos, natural e residente na freguesia de Requião, em Vila Nova de Famalicão, disse ter "feito um favor a um empresário de sucesso de Famalicão" que era seu "amigo". "[Limitei-me] a acompanhá-lo a uma agência da Caixa Geral de Depósitos, em Lamaçães, Braga, cujo gerente também era meu amigo, mas de onde saí antes de ter sido levantado o cheque", diz.
A partir daí, os familiares do idoso averiguaram a situação e, tendo conhecimento da intervenção do advogado no caso do levantamento fraudulento, contactaram-no. Só que o advogado famalicense, segundo uma familiar do idoso, "foi evasivo e só queria saber se o nosso tio já tinha morrido ou não", após o que todos cortaram relações com o profissional do foro.
Pormenores
CGD devolve dinheiro
A Caixa Geral de Depósitos já devolveu os 100 mil euros na conta do seu cliente após uma ação cível movida pelos familiares.
Arguido jura pela ética
Ouvido na Instância Central Criminal de Braga, Ernesto Salgado declarou que tem "uma carreira sempre pautada pela correção, ética e deontologia".
